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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mariazinha - Uma (pequena) história de amor

Desde pequena que a Mariazinha manifestava vontade em aprender e o desejo de ser “alguém”. Ter deixado a escola na terceira classe e trabalhar a dias desde os 16 anos não a ajudaram em nada a alcançar os seus objectivos.

A rapariga frente ao espelho - Picasso

Embora bastante engraçada e atraente, nunca foi moça de grandes namoros. Quando passava na rua não havia rapaz que não lhe deitasse o olho. O pessoal que se juntava nas portas das tabernas da vila chamava-lhe "a jeitosa". Alguns garantiam que já tinham dado umas "voltinhas", outros, porventura mais brutos, diziam que já a tinham "comido", mas na realidade ninguém podia afirmar que tal fosse verdade.

Um dia encontrou o Bonifácio e a paixão despertou. Recorda-se como se fosse hoje da primeira vez que o viu entrar no posto da GNR lá da vila, vinha ela do Minipreço carregada com um garrafão de lixívia e uma palete de leite.

Depois disso tornou a vê-lo entrar no posto várias vezes, mas só à terceira é que ele reparou na Mariazinha e lhe mandou uma piscadela de olho. Os olhos dela brilharam mais e a sua face enrubesceu quando ele lhe disse:

- És pouco boa sim…

Daí a ficar completamente apaixonada foi um pequeno passo, não conseguia deixar de pensar naquele rapagão que, sempre que a via, lhe mandava uns piropos que a deixavam toda nervosa.

Descobriu que aquele seria o homem da sua vida na véspera do seu 26º aniversário. Era domingo e ela, como costumava fazer, ao sair da missa passou perto do posto, na esperança de o ver. Quis o destino proporcionar-lhe uma daquelas coincidências que mudam a vida às pessoas, e lá estava o seu deus grego a sair do jipe da GNR. Ele viu-a aproximar-se, caminhando no seu vestido dominical, com o cabelo arranjado numa mise feita pela prima Alice, que não é cabeleireira mas tem muito jeito. Abrandou o passo antes de entrar à porta, dando-lhe tempo para chegar mais perto. Quando ela passou ele mirou-a de alto a baixo, soltou um assobio daqueles que fazem uííííque uíííuu, e foi com o olhar fixo no seu avantajado par de mamas de moça do campo alimentada com produtos naturais que lhe lançou a frase que acabaria por a levar ao altar:

- Comia-te toda!

Na realidade não foi ao altar. Juntaram os trapinhos, amantizaram-se, como diz a Ti Ermelinda, e passados vinte e tal anos, três gaiatos, muita chapada, uns quantos olhos negros e algumas (grandes) dificuldades, lá continuam juntos, com a Mariazinha muito apaixonada e orgulhosa do seu Bonifácio, o Mangas, como é mais conhecido na Damaia, onde vivem agora.

Desde o início pensou que ele era das brigadas à civil da GNR, pois sempre que o via era o único que não estava fardado. Foi quando se juntaram que descobriu a verdade, mas podia tê-lo feito mais cedo, bastava reparar que todas as vezes que o viu sair do jipe e entrar no posto ele ia algemado.

A Mariazinha não sabe ao certo o que fez o Bonifácio mudar; se foram os três anos no Pinheiro da Cruz, os dois no Linhó ou os vinte e seis meses no Estabelecimento Prisional de Lisboa, a verdade é que o seu homem está diferente. Deixou-se dos pequenos furtos e das falcatruas variadas e diz que agora é um homem à maneira. A Mariazinha acredita, embora saiba que com o currículo dele não é fácil encontrar empregos compatíveis, mas pelo menos não se tem deixado apanhar, a polícia não lhe aparece à porta quase há um ano e por causa do subsídio até anda nas Novas Oportunidades para fazer o 9º ano.

A vontade de aprender não abandonou a Mariazinha, continua curiosa e agora que tem um estudante lá em casa não pára de fazer perguntas. Quer saber o que é o Orçamento do Estado, se foi alguma doença má que fez o cabelo do Jorge Jesus passar de branco a loiro palha, se é verdade que há menos cães vadios nas ruas porque os donos dos restaurantes chineses os apanham, e por aí fora.

Até chegou a ter uma ideia genial para aplicar na aviação: quando um avião cai eles vão lá e conseguem achar a caixa negra intacta, porque é feita de um material muito resistente a tudo; então porque não fazem o avião todo desse material? Quando caísse ficava inteiro. Chegou a pensar registar a ideia mas o Bonifácio tirou-lhe tal coisa da cabeça.

- Deixa-te disso Maria! A ideia até não é má, mas tu não vez que os sucateiros é que dominam isto tudo? Aquele que lidava com comboios tinha Portugal na mão, agora imagina os sucateiros dos aviões, devem controlar o mundo inteiro. Se souberem que tu tens uma ideia dessas, para os aviões caírem e não ficarem feitos em sucata, mandam logo limpar-te o sarampo. Os sucateiros dos aviões devem ser fodidos se lhes tentarem estragar o negócio. Vai lá vai! Daaasse, que a mulher é parva!

Ela, a muito custo, lá desistiu da coisa, mas nunca deixou de pensar que se aquilo fosse para diante podia finalmente ser alguém na vida. Quem sabe se um dia não seria convidada para contar a história da sua vida nas Tardes da Júlia e tudo?

Há pouco tempo a Mariazinha chegou a casa estava o Bonifácio a ver o Glorioso na televisão. Agora estava mais atenta aos pormenores, para não se repetirem situações como a das algemas (a mãe ainda hoje continua a dizer-lhe que se ela não fosse cega reparava logo nas algemas, via que o rapaz não era nenhuma flor de cheiro, poupava muitos dissabores e até podia ter vindo a casar com um GNR de verdade) e, por isso, bastou-lhe olhar o resultado no ecrã, para concluir de imediato que não era a altura apropriada para grandes conversas com o seu mais-que-tudo. Mesmo assim arriscou.

- Sabes uma coisa amorzinho? A filha da dona Micas, aquela senhora onde vou fazer a limpeza às quartas, agora diz que é budista.

- Quero lá saber disso, eu acho que ela é mas é fufa. – disse ele sem tirar os olhos da televisão. - Filho da puta não marca uma falta destas caralho! Sem gamanço távamos a ganhar aí por uns quatro a zero. Cabrões de merda!

- Não te enerves Bonifácio José, olha o colestrol! – disse a Mariazinha enquanto ia buscar mais uma bojeca para acalmar o companheiro. – Tu sabes o que é isso do budismo amorzinho?

- Olha, são uns gajos carecas, vestidos com uns trapos cor-de-laranja, que partem tijolos com a cabeça e acreditam na reencarnação.

- A reencarnação? Isso é o quê amorzinho?

- Os gajos acreditam que depois de morrerem voltam cá, mas no corpo de um animal diferente. O gajo pode vir num cão ou num pássaro ou noutro bicho qualquer. Isso é que é a reencarnação.

- Ai que engraçado amor. A Tininha afinal tem razão em ser budista, ao menos, quando morrer, sempre nasce outra vez. Olha, eu cá se fosse budista e morresse gostava de voltar cá no corpo duma vaquinha.

- Não estúpida! Nunca percebes nada. Tem de ser num animal diferente!

- Ai amor, tem calma. Lá porque estão a perder não precisas de te enervar, sabes que isso faz-te mal à intenção arterial e depois sobem-te os diabetes.

2 comentários:

Bella disse...

Pobre Mariazinha. Mas tu meu amigo és um verdadeiro contador des histórias.

Anónimo disse...

ñ gostei dessa historia a minha é bem melhor meriazinha e sua vida ja teve 9.456 assesos