The Blog Directory Blog Directory Free Blog Directory Blog Listings Barreiro Overnight: 1895 – O primeiro automóvel em Portugal

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

1895 – O primeiro automóvel em Portugal

Panhard et Lavassor de 1895

Há 115 anos chegou a Portugal o primeiro automóvel a circular neste cantinho à beira-mar plantado. Não era qualquer automóvel, mas sim um Panhard-Levassor idêntico ao que pouco tempo antes ganhara a primeira corrida de sempre, o Paris-Bordéus-Paris, ou seja, uma verdadeira "bomba" para a época.

O carro, que tinha sido importado de Paris por D. Jorge, quarto conde de Avilez, um jovem aristocrata de Santiago do Cacém, começou a causar confusão logo à chegada ao porto de Lisboa, pois os funcionários da alfândega, após a máquina ser desencaixotada, não sabiam como a qualificar para efeitos de pagamento das respectivas taxas aduaneiras; se como máquina agrícola ou como "locomobile" (máquina movida a vapor). Foi adoptada a última definição.



Após atravessar o Tejo chega ao Barreiro, a primeira localidade a ouvir o barulho do seu motor V2 de 1290 cc, onde inicia uma louca viagem até Santiago do Cacém, a primeira realizada por um automóvel em Portugal. Perante o terror de uns e o deslumbramento de outros, lá segue a sua correria rumo ao Litoral Alentejano, à louca velocidade de 15 Km/h. A máquina dava cerca de trinta, mas como ainda não havia SCUTs nem autoestradas, aliás, as estradas não passavam de caminhos, a maior parte das vezes antigas estradas romanas, o percurso foi feito a uma velocidade mais reduzida, embora estonteante para os padrões da época.

A 11 de Outubro de 1895, pelas 5 da tarde, dá-se a chegada a Santiago do Cacém, no meio de grande festa e curiosidade popular, isto depois de uma atribulada viagem, que acabou por incluir o primeiro acidente de viação registado em Portugal, após a viatura atropelar um burro, algures pelo caminho. Foi também pelo caminho que houve necessidade de proceder ao primeiro reabastecimento, também mal sucedido, seguindo-se a primeira reparação, que poderá também classificar-se como a primeira "assistência em viagem", já que, à falta de outro combustível, decidiram encher o depósito com petróleo de iluminação, o que fez com que o motor não trabalhasse, obrigando à sua completa limpeza para seguir viagem, após atestado com combustível próprio, que entretanto chegara, provavelmente transportado em carroças.

Conta-se que o Conde de Avilez, embora as viagens fossem bastante duras, devido não só ao estado das estradas, mas também ao facto dos rodados do carro não serem muito diferentes dos das carroças, em madeira e com aros de ferro, se deslocava bastantes vezes no seu novo veículo, destacando-se de entre as suas épicas viagens umas idas a Beja e a Évora.

Em 1910, ano da implantação da Republica, o Panhard et Levassor foi vendido pelo Conde ao senhor Mariano Sodré de Medeiros, pela quantia de setecentos mil réis, mas este, pouco agradado com as performances da viatura, acaba por o trocar por um Decauville, vendido pelo senhor João Garrido, do Porto. Não se sabe se este terá sido o primeiro automóvel a circular no Porto, um Decauville comprado por Alberto Henriques Andersen em 1897, equipado com um motor Benz de 3 cv. No entanto é convicção geral que este terá sido o primeiro negócio de troca de automóveis em Portugal.

Decauville - modelo Wartburg de 1898

Desde então nada voltou a ser como era; as estradas e autoestradas não param de se multiplicar, o parque automóvel nacional ronda os 6 milhões de veículos, a gasolina e o gasóleo continuam a aumentar, a poluição e as doenças nervosas causadas pelo trânsito estão para ficar, os engarrafamentos também e nos próximos dias prevê-se que se registem actos de protesto de automobilistas junto às ex-SCUT. A confusão que o sacana do Conde foi arranjar...

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