The Blog Directory Blog Directory Free Blog Directory Blog Listings Barreiro Overnight: outubro 2010

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mariazinha - Uma (pequena) história de amor

Desde pequena que a Mariazinha manifestava vontade em aprender e o desejo de ser “alguém”. Ter deixado a escola na terceira classe e trabalhar a dias desde os 16 anos não a ajudaram em nada a alcançar os seus objectivos.

A rapariga frente ao espelho - Picasso

Embora bastante engraçada e atraente, nunca foi moça de grandes namoros. Quando passava na rua não havia rapaz que não lhe deitasse o olho. O pessoal que se juntava nas portas das tabernas da vila chamava-lhe "a jeitosa". Alguns garantiam que já tinham dado umas "voltinhas", outros, porventura mais brutos, diziam que já a tinham "comido", mas na realidade ninguém podia afirmar que tal fosse verdade.

Um dia encontrou o Bonifácio e a paixão despertou. Recorda-se como se fosse hoje da primeira vez que o viu entrar no posto da GNR lá da vila, vinha ela do Minipreço carregada com um garrafão de lixívia e uma palete de leite.

Depois disso tornou a vê-lo entrar no posto várias vezes, mas só à terceira é que ele reparou na Mariazinha e lhe mandou uma piscadela de olho. Os olhos dela brilharam mais e a sua face enrubesceu quando ele lhe disse:

- És pouco boa sim…

Daí a ficar completamente apaixonada foi um pequeno passo, não conseguia deixar de pensar naquele rapagão que, sempre que a via, lhe mandava uns piropos que a deixavam toda nervosa.

Descobriu que aquele seria o homem da sua vida na véspera do seu 26º aniversário. Era domingo e ela, como costumava fazer, ao sair da missa passou perto do posto, na esperança de o ver. Quis o destino proporcionar-lhe uma daquelas coincidências que mudam a vida às pessoas, e lá estava o seu deus grego a sair do jipe da GNR. Ele viu-a aproximar-se, caminhando no seu vestido dominical, com o cabelo arranjado numa mise feita pela prima Alice, que não é cabeleireira mas tem muito jeito. Abrandou o passo antes de entrar à porta, dando-lhe tempo para chegar mais perto. Quando ela passou ele mirou-a de alto a baixo, soltou um assobio daqueles que fazem uííííque uíííuu, e foi com o olhar fixo no seu avantajado par de mamas de moça do campo alimentada com produtos naturais que lhe lançou a frase que acabaria por a levar ao altar:

- Comia-te toda!

Na realidade não foi ao altar. Juntaram os trapinhos, amantizaram-se, como diz a Ti Ermelinda, e passados vinte e tal anos, três gaiatos, muita chapada, uns quantos olhos negros e algumas (grandes) dificuldades, lá continuam juntos, com a Mariazinha muito apaixonada e orgulhosa do seu Bonifácio, o Mangas, como é mais conhecido na Damaia, onde vivem agora.

Desde o início pensou que ele era das brigadas à civil da GNR, pois sempre que o via era o único que não estava fardado. Foi quando se juntaram que descobriu a verdade, mas podia tê-lo feito mais cedo, bastava reparar que todas as vezes que o viu sair do jipe e entrar no posto ele ia algemado.

A Mariazinha não sabe ao certo o que fez o Bonifácio mudar; se foram os três anos no Pinheiro da Cruz, os dois no Linhó ou os vinte e seis meses no Estabelecimento Prisional de Lisboa, a verdade é que o seu homem está diferente. Deixou-se dos pequenos furtos e das falcatruas variadas e diz que agora é um homem à maneira. A Mariazinha acredita, embora saiba que com o currículo dele não é fácil encontrar empregos compatíveis, mas pelo menos não se tem deixado apanhar, a polícia não lhe aparece à porta quase há um ano e por causa do subsídio até anda nas Novas Oportunidades para fazer o 9º ano.

A vontade de aprender não abandonou a Mariazinha, continua curiosa e agora que tem um estudante lá em casa não pára de fazer perguntas. Quer saber o que é o Orçamento do Estado, se foi alguma doença má que fez o cabelo do Jorge Jesus passar de branco a loiro palha, se é verdade que há menos cães vadios nas ruas porque os donos dos restaurantes chineses os apanham, e por aí fora.

Até chegou a ter uma ideia genial para aplicar na aviação: quando um avião cai eles vão lá e conseguem achar a caixa negra intacta, porque é feita de um material muito resistente a tudo; então porque não fazem o avião todo desse material? Quando caísse ficava inteiro. Chegou a pensar registar a ideia mas o Bonifácio tirou-lhe tal coisa da cabeça.

- Deixa-te disso Maria! A ideia até não é má, mas tu não vez que os sucateiros é que dominam isto tudo? Aquele que lidava com comboios tinha Portugal na mão, agora imagina os sucateiros dos aviões, devem controlar o mundo inteiro. Se souberem que tu tens uma ideia dessas, para os aviões caírem e não ficarem feitos em sucata, mandam logo limpar-te o sarampo. Os sucateiros dos aviões devem ser fodidos se lhes tentarem estragar o negócio. Vai lá vai! Daaasse, que a mulher é parva!

Ela, a muito custo, lá desistiu da coisa, mas nunca deixou de pensar que se aquilo fosse para diante podia finalmente ser alguém na vida. Quem sabe se um dia não seria convidada para contar a história da sua vida nas Tardes da Júlia e tudo?

Há pouco tempo a Mariazinha chegou a casa estava o Bonifácio a ver o Glorioso na televisão. Agora estava mais atenta aos pormenores, para não se repetirem situações como a das algemas (a mãe ainda hoje continua a dizer-lhe que se ela não fosse cega reparava logo nas algemas, via que o rapaz não era nenhuma flor de cheiro, poupava muitos dissabores e até podia ter vindo a casar com um GNR de verdade) e, por isso, bastou-lhe olhar o resultado no ecrã, para concluir de imediato que não era a altura apropriada para grandes conversas com o seu mais-que-tudo. Mesmo assim arriscou.

- Sabes uma coisa amorzinho? A filha da dona Micas, aquela senhora onde vou fazer a limpeza às quartas, agora diz que é budista.

- Quero lá saber disso, eu acho que ela é mas é fufa. – disse ele sem tirar os olhos da televisão. - Filho da puta não marca uma falta destas caralho! Sem gamanço távamos a ganhar aí por uns quatro a zero. Cabrões de merda!

- Não te enerves Bonifácio José, olha o colestrol! – disse a Mariazinha enquanto ia buscar mais uma bojeca para acalmar o companheiro. – Tu sabes o que é isso do budismo amorzinho?

- Olha, são uns gajos carecas, vestidos com uns trapos cor-de-laranja, que partem tijolos com a cabeça e acreditam na reencarnação.

- A reencarnação? Isso é o quê amorzinho?

- Os gajos acreditam que depois de morrerem voltam cá, mas no corpo de um animal diferente. O gajo pode vir num cão ou num pássaro ou noutro bicho qualquer. Isso é que é a reencarnação.

- Ai que engraçado amor. A Tininha afinal tem razão em ser budista, ao menos, quando morrer, sempre nasce outra vez. Olha, eu cá se fosse budista e morresse gostava de voltar cá no corpo duma vaquinha.

- Não estúpida! Nunca percebes nada. Tem de ser num animal diferente!

- Ai amor, tem calma. Lá porque estão a perder não precisas de te enervar, sabes que isso faz-te mal à intenção arterial e depois sobem-te os diabetes.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A estupidez está de luto

A notícia teve direito a divulgação nos mais variados órgãos de comunicação social: Morreu o polvo Paul, o tal que, dizem, acertava nos resultados do mundial de futebol. Para mim isto só merece um comentário: A estupidez está de luto! Ainda por cima o animal morreu em vão, nem para um arroz serviu. Paz aos seus tentáculos.

A título de homenagem (não sei se ao polvo se à estupidez), aqui fica uma receita, assim a modos de inscrição aposta em lápide funerária.

Polvo à Lagareiro

Ingredientes
  • 1.5 kg de Polvo
  • 6 Dentes de alho
  • 2 folhas de louro
  • Batatas pequenas
  • Coentros a gosto
  • 2 cebola pequena

Preparação

Coza o polvo na panela de pressão por 15 a 20 minutos (não é necessário colocar água, o polvo coze na própria água que liberta), junte 1cebola, 1 dente de alho e 1 folha de louro.

À parte, lave as batatas, e, sem descascar, coloque-as num recipiente para o forno, com bastante sal. Leve ao forno por +- 20 minutos, e quando estiverem cozinhas esmurre-as, ainda quentes.

Depois de cozido, corte o polvo em parte (pode simplesmente separar os tentáculos) e coloque num tabuleiro de barro (de preferência). Corte a cebola e os alhos em laminas fininhas e coloque por cima do polvo, assim como a folha de louro, os coentros picados e sal a gosto. Depois de retirar o sal em excesso, coloque as batatas também no tabuleiro. Regue com bastante azeite, e leve ao forno por +- 20 minutos.

Sirva quente e acompanhe com salada.

Esta receita foi retirada do site Aprender e Fazer.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A lenda do entalado

Portugal, talvez devido à sua idade, é um país rico em lendas (ao menos somos ricos em qualquer coisa). Uma das mais antigas relata a história de Martim Moniz, um desgraçado que teria morrido entalado numa das portas do castelo de Lisboa, aquando da conquista da cidade aos Mouros, por D. Afonso Henriques, em 21 de Outubro de 1147, faz hoje precisamente 863 anos.

Reza a lenda que D. Afonso Henriques, aproveitando a passagem por esta região de uma enorme quantidade de Cruzados franceses que se dirigiam à Terra Santa para praticar o desporto favorito dos ricos daquela época - basicamente consistia em matar muçulmanos e pilhar os seus bens, à mistura com umas violações e outras coisitas do género - terá solicitado a sua ajuda para conquistar Lisboa aos Mouros, que a tinham tomado por volta do ano 711 da nossa era. Em troca poderiam saquear e pilhar a cidade a seu bel-prazer, bem como fazer os escravos que entendessem. Tal hábito criou escola entre os futuros governantes portugueses e ainda hoje se mantém.

A conquista levou bastante tempo, pois o castelo revelava-se inexpugnável. Até que um dia, o tal de Martim Moniz, aproveitando o que se crê ser uma saída dos Mouros, numa tentativa de repelir mais um assalto, decide meter-se onde não era chamado e acaba por ficar entalado numa das portas do castelo. Os muçulmanos bem tentaram fechar as portas, mas o tal Martim, como hoje é moda chamar-se aos meninos para dar um ar "fino", era um bocado anafado e, juntamente com o peso da armadura revelou-se um fardo difícil de remover. Os seus gritos soavam longe e acabaram por atrair mais cristãos, os quais conseguiram forçar a entrada e assim penetrar nas defesas dos Mouros. Como recompensa Afonso Henriques deu o seu nome à porta do castelo onde pereceu entalado. Muitos anos mais tarde ganhou o direito a ostentar o seu nome num largo da cidade.

A lenda insiste em que Martim Moniz terá gritado para chamar os companheiros. Não duvido que tal tenha acontecido, mas certamente não lhe terá passado pela cabeça que, com isso, pudesse contribuir para a conquista da cidade, o que o homem certamente queria era livrar-se de tal entalão pois as portas eram pesadas e devia doer como o caraças. Fosse como fosse, acabou por morrer, tornando-se no primeiro entalado português, o primeiro sacrificado para que outros, mais ricos e poderosos, continuassem com a sua boa vidinha. E assim a futura capital do país foi conquistada e os Mouros expulsos, embora algumas pessoas insistam na tese segundo a qual de Vila Nova de Gaia para baixo continuamos todos a ser Mouros.

Desde então muito mais entalados têm visto a luz do dia e também apagado o maçarico, neste cantinho lusitano, enquanto proliferam os outros, aqueles pelos quais tantos se entalam, sem, no entanto, se dignarem conceder-lhes a honra de ver o seu nome dado a uma porta de castelo ou a um largo na cidade, como fizeram ao tal Martim. Os entalados de agora, quando muito, limitam-se a ver o seu nome em avisos das Finanças ou em listas do IEFP.

Ainda hoje a sua memória perdura, não apenas junto dos sem-abrigo que são em grande quantidade naquela zona, mas também, e em especial, junto das putas e dos vendedores de droga que, dia e noite, faça chuva ou faça sol, se reúnem no Largo do Martim Moniz aguardando pelos respectivos clientes, sem sequer reparar no castelo que encima a Mouraria (este link não deve passar sem um visionamento, contém uma galeria de fotos de excelente qualidade, da autoria de Dias dos Reis, das quais a seguinte faz parte).

Grande Martim Moniz, foste o primeiro entalado, mas descansa, não terás sido o último e a tua legião de seguidores não pára de engrossar. A continuar assim, um dia seremos tantos que o melhor será chamar os Mouros de volta.


As avós, o crochet e os novos tempos

Recebi hoje estas fotos enviadas por um amigo, juntamente com o pedido para divulgar uma informação. Pede-me ele que diga a toda a gente o seguinte: "Nunca deixem a vossa moto na casa da avó!"

O inverno não tarda nada está aí e em casa de todas as avózinhas a actividade de fazer crochet está em plena época alta. As que não têm netos ou bisnetos pequenos a quem possam fazer as tradicionais botinhas, gorros, luvas ou meias, são obrigadas a optar por peças diferentes, algumas bastante originais, como é o caso presente.

Os naperons para colocar em cima das televisões, os quais eram uma excelente alternativa, já saíram de moda, não por as pessoas finalmente se terem apercebido de quão foleiros eram, mas por um motivo muito mais básico: actualmente já quase não existem as tradicionais televisões, com muito espaço para os ditos adornos, normalmente encimados por uma jarra de flores, pacientemente feitos pelas avózinhas de todo o mundo, pois na maioria das casas já reinam os plasmas e LCDs, os quais não permitem que se lhes coloque em cima seja o que for, de tão estreitos que são.

As pobres avós é que têm de puxar pela imaginação, procurando descobrir novos usos para os seus talentos crochetísticos. O resultado está à vista. Por isso, e por muito engraçado que seja o produto final, vou tentar evitar-vos alguns embaraços, dando eco ao apelo feito pelo meu amigo:
Nunca, MAS NUNCA MESMO, deixem as vossas motos em casa da avózinha!...








domingo, 17 de outubro de 2010

Gosto de palavrões

Começo por deixar um aviso: se pensa que o título está aqui em vão, esqueça! O vídeo contém mesmo palavrões, pelo que a linguagem usada pode ser considerada imprópria ou até mesmo ofensiva para algumas pessoas. Se é uma delas não o deve visionar, embora fique com razões para lamentar-se já que o texto do multifacetado Miguel Esteves Cardoso (um intelectual com pinta de tótó e cara de puto queque com cinquenta e tal anos, que, entre muitas outras coisas, se destacou como professor universitário, jornalista, escritor, filósofo, produtor musical, fundador de jornais e revistas, dramaturgo, etc.), aqui lido pelo actor Miguel Guilherme, é óptimo e muito engraçado. Apesar de todos os palavrões, e também por via deles, é uma pérola de humor e um excelente jogo de palavras, arte que o autor sempre dominou com maestria. Literal e literáriamente imperdível.



"É pior falar mau português do que falar mal em bom português!"

No dia em que completou 55 anos de idade, o passado 25 de Julho, MEC, como ficou conhecido, publicou uma crónica no jornal Público, intitulada "O dia dos meus anos", de onde foi retirado o extracto seguinte:

"Quando tinha 35 anos, escrevi estupidamente que já podia morrer, porque já tinha tido todas as felicidades que se poderia ter. A minha mãe zangou-se e mandou-me nunca mais falar na morte, antes de saber o que era a vida. Tinha razão. Tanta razão que eu hoje também não sei o que digo. Sou cada vez mais feliz. Estou cada vez mais apaixonado. Nunca tive tanta sorte. A partir de agora é como se tivesse 95 anos: cada hora a mais é um roubo que fica roubado. Que me move e comove."

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

1895 – O primeiro automóvel em Portugal

Panhard et Lavassor de 1895

Há 115 anos chegou a Portugal o primeiro automóvel a circular neste cantinho à beira-mar plantado. Não era qualquer automóvel, mas sim um Panhard-Levassor idêntico ao que pouco tempo antes ganhara a primeira corrida de sempre, o Paris-Bordéus-Paris, ou seja, uma verdadeira "bomba" para a época.

O carro, que tinha sido importado de Paris por D. Jorge, quarto conde de Avilez, um jovem aristocrata de Santiago do Cacém, começou a causar confusão logo à chegada ao porto de Lisboa, pois os funcionários da alfândega, após a máquina ser desencaixotada, não sabiam como a qualificar para efeitos de pagamento das respectivas taxas aduaneiras; se como máquina agrícola ou como "locomobile" (máquina movida a vapor). Foi adoptada a última definição.



Após atravessar o Tejo chega ao Barreiro, a primeira localidade a ouvir o barulho do seu motor V2 de 1290 cc, onde inicia uma louca viagem até Santiago do Cacém, a primeira realizada por um automóvel em Portugal. Perante o terror de uns e o deslumbramento de outros, lá segue a sua correria rumo ao Litoral Alentejano, à louca velocidade de 15 Km/h. A máquina dava cerca de trinta, mas como ainda não havia SCUTs nem autoestradas, aliás, as estradas não passavam de caminhos, a maior parte das vezes antigas estradas romanas, o percurso foi feito a uma velocidade mais reduzida, embora estonteante para os padrões da época.

A 11 de Outubro de 1895, pelas 5 da tarde, dá-se a chegada a Santiago do Cacém, no meio de grande festa e curiosidade popular, isto depois de uma atribulada viagem, que acabou por incluir o primeiro acidente de viação registado em Portugal, após a viatura atropelar um burro, algures pelo caminho. Foi também pelo caminho que houve necessidade de proceder ao primeiro reabastecimento, também mal sucedido, seguindo-se a primeira reparação, que poderá também classificar-se como a primeira "assistência em viagem", já que, à falta de outro combustível, decidiram encher o depósito com petróleo de iluminação, o que fez com que o motor não trabalhasse, obrigando à sua completa limpeza para seguir viagem, após atestado com combustível próprio, que entretanto chegara, provavelmente transportado em carroças.

Conta-se que o Conde de Avilez, embora as viagens fossem bastante duras, devido não só ao estado das estradas, mas também ao facto dos rodados do carro não serem muito diferentes dos das carroças, em madeira e com aros de ferro, se deslocava bastantes vezes no seu novo veículo, destacando-se de entre as suas épicas viagens umas idas a Beja e a Évora.

Em 1910, ano da implantação da Republica, o Panhard et Levassor foi vendido pelo Conde ao senhor Mariano Sodré de Medeiros, pela quantia de setecentos mil réis, mas este, pouco agradado com as performances da viatura, acaba por o trocar por um Decauville, vendido pelo senhor João Garrido, do Porto. Não se sabe se este terá sido o primeiro automóvel a circular no Porto, um Decauville comprado por Alberto Henriques Andersen em 1897, equipado com um motor Benz de 3 cv. No entanto é convicção geral que este terá sido o primeiro negócio de troca de automóveis em Portugal.

Decauville - modelo Wartburg de 1898

Desde então nada voltou a ser como era; as estradas e autoestradas não param de se multiplicar, o parque automóvel nacional ronda os 6 milhões de veículos, a gasolina e o gasóleo continuam a aumentar, a poluição e as doenças nervosas causadas pelo trânsito estão para ficar, os engarrafamentos também e nos próximos dias prevê-se que se registem actos de protesto de automobilistas junto às ex-SCUT. A confusão que o sacana do Conde foi arranjar...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A anedota mortífera

Não vou enveredar pelo caminho fácil e começar a fazer trocadilhos com a palavra "anedota". Podia dizer que o governo é uma anedota, que o debate sobre o orçamento de estado vai ser uma sequência de anedotas ou que carregar com mais impostos pessoas que vivem no limiar da pobreza enquanto os mais ricos continuam a encher-se alegremente, nem como anedota seria aceitável, quanto mais como realidade, mas não vou utilizar esse truque baixo, embora a tentação seja grande, quase na proporção da grande anedota em que este país se vem tornando.
Nada disso, trata-se apenas de um sketch dos Monty Python, retirado da série Monty Python's Flying Circus, que passou na televisão portuguesa nos anos 80, "A anedota mortífera", aqui legendada em português do Brasil. Adoro o trabalho destes tipos e gostava bastante que a série, embora velhinha, voltasse à televisão portuguesa. Para quem não conhece ou para quem quer recordar.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

Jogar pelo seguro


A Commonwealth, anteriormente chamada Comunidade Britânica, é formada por 55 países independentes que compartilham laços históricos com a Inglaterra, as excepções são Moçambique e o Ruanda. Actualmente estão a decorrer os XIX Jogos da Commonwealth, entre 3 e 14 de Outubro, em Nova Deli, na Índia, com a presença de 71 delegações, nem todas correspondentes a países, como seja o caso da Ilha de Man, num total de mais de 7000 atletas.

Esta espécie de Jogos Olímpicos dos países de língua inglesa tem sido cenário e tema para muitas e variadas confusões. Desde o atraso na conclusão das infraestruturas aos problemas de segurança, passando pela qualidade da alimentação até à duvidosa salubridade das águas das piscinas, tem havido de tudo. Diga-se a propósito que mais de 50 nadadores - 40 americanos e 12 australianos - sentiram-se mal depois de terem passado pelas piscinas de treinos, sendo que dois australianos, por sinal grandes pretendentes ao pódio, não chegaram a alinhar para as séries de 100 metros mariposa e 100 metros costas. O presidente da Federação dos Jogos da Commonwealth, Mike Fennell, apressou-se a declarar que a água e a alimentação são testadas, e que está a ser feito todo o possível para que os atletas possam competir ao seu melhor nível.Entretanto são já vários os casos de doping registados nestes jogos, o maior evento multidesportivo até hoje realizado na Índia, o que só tem contribuído para aumentar todas as polémicas em torno dos mesmos.

Desporto à parte, mas muito saudável na mesma - certamente não estavam à espera que me desse ao trabalho de vir aqui só para comentar uns jogos da treta praticados por malta que tem o inglês como língua oficial - tem sido a actividade sexual na Aldeia dos Jogos. E como é que eu sei disso? Fácil! É que, segundo a própria organização, há dias ocorreu mais um problema: as canalizações da Aldeia dos Jogos ficaram entupidas, causando enormes transtornos a todos os que lá residem durante os jogos. O motivo foram milhares de preservativos que têm sido lançados para as sanitas e lá se foram acumulando até levar ao colapso total do sistema sanitário.

O tal presidente dos jogos, Mike Fennell, mais uma vez veio dar a cara - espero que não tenha dado outra coisa qualquer e contribuído para o caos escatológico - minimizando a importância do acontecido e felicitando os atletas por praticarem sexo seguro. Faltou-lhe apenas explicar ao pessoal que aquelas coisas não são para deitar na sanita...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tudo pela pátria

Os israelitas são uns tipos muito dedicados à pátria e, certamente, eles lá terão as suas razões culturais, históricas, religiosas, económicas e outras. Expulsos da sua terra e perseguidos, obrigados a atravessar mares que se abriram para o efeito e depois afogaram todos os perseguidores, as grandes travessias do deserto que não deviam ser pêra doce, a perseguição dos nazis que levou ao extermínio de milhões de judeus, a porrada continuada com os vizinhos, que nunca vai terminar, a preocupação em como gerir algumas das maiores fortunas do mundo e, ainda assim, continuar a fazer com que cresçam à conta de outros mais incautos, são apenas alguns bons motivos para tamanha dedicação.

Todos os cidadãos maiores de 18 anos cumprem serviço militar, independentemente do sexo (3 anos para os homens e 2 para as mulheres), passando depois à reserva onde cumprem períodos de serviço, que podem variar em função das necessidades, mas que habitualmente duram de 30 a 60 dias por ano. As mulheres servem na reserva até aos 24 anos, enquanto os homens o fazem até aos 40. Para os que pretendem seguir a carreira militar, a aposentação ocorre após 20 anos de serviço.

Toda a gente sabe que os judeus actuais, quando não estão a dar cabeçadas no Muro das Lamentações, estão entretidos com uma guerra qualquer ou então a engendrar esquemas para enriquecerem ainda mais de uma forma que não lembrava ao mais pintado. Vai daí que os seus serviços secretos não sosseguem um minuto, recuperando um traidor fugitivo aqui, eliminando um dirigente inimigo ali, sequestrando um activista mais além ou espiando seja o que for acolá. Isto por todo o mundo e abrangendo áreas de interesse tão dispersas e variadas que nem eles próprios devem saber quais são na totalidade.

Como é apanágio dos países daquela parte do mundo, a política e a governação estão estreitamente ligadas à religião, que tudo controla, tal como aqui na Europa acontecia no passado com a religião católica. Assim sendo, certos actos do estado, nomeadamente das forças armadas ou de segurança, dependem do sim da igreja, para serem considerados legítimos.

É nesse contexto que um senhor rabino, de seu nome Ari Shvat, de quem nunca ouvi falar antes nem nunca vi mais gordo nem mais magro, vem aliviar os responsáveis e operacionais do Mossad (os tais serviços secretos super-bons, que se fartam de limpar o cebo a malta por esse mundo fora e de fazer as falcatruas mais mirabolantes que se possam imaginar), afirmando, como conclusão de um estudo elaborado para o efeito, que as mulheres israelitas podem dormir com o inimigo, no interesse da segurança nacional.

"Illicit Sex for the Sake of National Security" é o título da obra - se quiserem, traduzam vocês a coisa à vossa maneira - que aponta exemplos bíblicos, como o da rainha Ester, que terá casado com um rei persa, que se crê ser Xerxes, para salvar o povo judeu, ou o de Yael, uma mulher casada que seduziu o general Sisera, o qual matou, com o mesmo fim.
No Mossad são várias as agentes que recorrem aos seus dotes sexuais e de sedução para levar a cabo as suas missões, a mais conhecida de todas, Cheryl Bentov, Cindy de seu nome de guerra, seduziu Mordechai Vanunu, um antigo técnico nuclear israelita que revelara segredos sobre o programa atómico, fazendo com que ele a acompanhasse de Londres a Roma, onde acabaria por ser raptado e levado para Israel. Também o assassínio de operacionais do Hamas tem, variadas vezes, sido conseguido com o recurso a estas "funcionárias de S. Valentim". Chamam a este tipo de operações "honey traps".

O rabino diz que o Talmude há mais de 1000 anos considera louváveis tais actos. "Os nossos sábios de abençoada memória elevaram tais actos de dedicação ao topo da pirâmide dos mandamentos da Lei Judaica". Esclarece ainda que o ideal é que tais agentes devam ser solteiras, em todo o caso, se forem casadas, aconselha que se divorciem antes de levar a cabo tais missões, voltando a casar-se com o ex-marido após concluído o "trabalho", evitando assim situações de adultério.

Tintoretto - A mulher apanhada em adultério

È só rir maltinha. Então se estiverem divorciadas não é adultério? Bem visto. Até os chulos não consideram o trabalho das prostitutas como traição, afinal é só trabalho e se trabalho é trabalho e conhaque é conhaque, então para quê o divórcio? O homem vai ao ponto de sugerir uns divórcios em série, uns quantos papéis pré-ajustados aos quais faltam apenas pequenas formalidades para se tornarem válidos, de modo a fazer face a missões urgentes. Um rir completo!...

Resta acrescentar que ele nunca vai ter esse problema - mesmo que a respectiva esposa, levada pelo fervor patriótico e por uns calores mais mal apagados, ao saber da douta opinião do marido, resolva oferecer-se como voluntária para uma dessas missões - pois a Lei Judaica não permite que as esposas dos sacerdotes recorram a esta artimanha, por maior que seja a ânsia em servir a pátria, já que os sacerdotes não podem casar com mulheres divorciadas.
Muito bem prega São Tomás, faz como ele diz, não faças como ele faz.


domingo, 10 de outubro de 2010

Auxiliai o ceguinho

Há muitos anos atrás havia um cego que costumava ter o seu local de trabalho na Avenida Alfredo da Silva, aqui no Barreiro, mendigando esmola a quem passava. "Auxiliai o ceguinho.", era a sua lengalenga (na realidade não se tratava de uma lengalenga, era mais uma espécie de ladainha). Fosse o que fosse, isso não interessa para nada, apenas serve de paralelismo com um outro pedinte, só que este não tem pinta de mendigo (também correu o boato segundo o qual, após a morte do ceguinho da avenida, uma fortuna enorme teria sido encontrada em sua casa, juntamente com registos de propriedade de vários imóveis), e está convencido que cegos são os outros todos. A história já foi mais que contada, mas para os menos atentos convém dar mais uma passagem.

Um senhor deputado à Assembleia da República, daqueles que são eleitos pelo povo para que o represente no exercício das suas funções, ao sentir-se atingido pelas novas medidas do governo (vai ver o seu salário mensal reduzido de 3700 para cerca de 3515 euros, ao qual acrescem 67 euros diários a título de ajudas de custo), vem dizer que se a cantina da Assembleia estivesse aberta à noite ia lá jantar (a rapaziada paga 4,65 pela refeição), pois o ordenado de miséria com que fica após o saque dos 5%, levado a efeito pelos seus camaradas que estão no governo, não lhe dá para nada, acrescentando que "Os deputados são de longe os mais atingidos na carteira." É preciso ter lata! A maioria da população está quase a ter de ocupar o lugar do ceguinho ali na avenida e o alarve vem queixar-se de uma forma que só pode ser gozo.
Há tempos uma outra deputada, pela qual também não nutro especial simpatia, embora por factos diferentes, chamou-lhe "palhaço" em plena Assembleia. Por uma vez sou obrigado a concordar com a senhora...

Neste caso até tenho pena de não ter votado no homem, pois se o tivesse feito teria legitimidade para lhe dizer que não se prendesse por mim, ficava dispensado de me representar com tão grande sacrifício da sua barriguinha e podia voltar lá para a terra. Assim só posso dizer-lhe que, se estiver disposto a tal, bem pode arranjar um pensionista ou um trabalhador daqueles que sobrevivem(?) com o salário mínimo, disposto a trocar de lugar com ele, pois esses já estão acostumados a viver com pouco, e ele cá fora sempre se amanha melhor. Certamente ia aprender a gerir convenientemente o seu dinheirito e, pelo menos, não andava a mamar à conta e ainda por cima a dar baile ao pessoal. Por agora chega, não bato mais no ceguinho. Prefiro dedicar-lhe este vídeo: