The Blog Directory Blog Directory Free Blog Directory Blog Listings Barreiro Overnight: dezembro 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Filmes de Natal

Na época natalícia os responsáveis pelas televisões fazem um esforço enorme para colocar no ar os piores filmes que conseguem encontrar. O pessoal fica em casa e as audiências estão garantidas, vai daí, toca de dar lixo à maltinha,

Há uns anos era hábito passar o Pátio das Cantigas, o Leão da Estrela e outros clássicos portugueses do tempo da Maria Cachuxa, entremeados com o Ben-Hur e os Dez Mandamentos. O Sozinho em Casa também tinha lugar garantido. Actualmente somos obrigados a ver o Shreck 8, ou outra coisa no género, e a Corrida Mortal ou outras merdas que tais. Já nem se respeita o facto de ser uma data dedicada à família e ao convívio entre diversas gerações, o que interessa é passar meia dúzia de filmes para crianças e mais uns quantos que nem para adultos são, limitam-se a incluir porrada que até ferve e umas gajinhas boazonas e pouco vestidas.
Por mim façam como muito bem entenderem, mas, ainda assim, vou deixar aos programadores das nossas televisões um conselho: podem continuar a passar os tais filmes para crianças, mal por mal, também ninguém os vai ver. Quanto aos outros, aqueles destinados aos mais crescidos, deixem-se de violência gratuita e sexo explícito, a malta prefere violência explícita e sexo gratuito.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Saramago com ideias claras

O homem disse muita asneira, mas também disse muita coisa certa.

”Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. se encontra a salvação do mundo… e, agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.”

José Saramago – Cadernos de Lanzarote - Diário III – pag. 148

domingo, 12 de dezembro de 2010

Sílvio Berlusconi, o "Papi"

“Não preciso de ir para o governo por nada deste mundo. Tenho casas espalhadas por todo o mundo, barcos espectaculares, belíssimos aviões, a mais bela das mulheres. Ir para o governo é um grande sacrifício que estou a fazer.”

A frase é de Sílvio Berlusconi e o nosso primeiro-ministro deve estar todo roído de inveja. O homem só tem aquela casa que lhe venderam por metade do valor de mercado, não tem barcos nem aviões e desconfia-se que mulher também não. Além disso também está a fazer um grande sacrifício no governo, basta ver a forma como governa, especialmente porque sabe que quando sair vai enriquecer rapidamente e depois já poderá ter algumas daquelas coisas.

Berlusconi fala desta forma, mas faz tudo para se manter no poleiro que ocupa há mais de vinte anos, resistindo aos que, por via do seu afastamento, pretendem um futuro político mais transparente para a Itália e um chefe de Governo menos atolado em suspeições, negócios obscuros e em escândalos variados, alguns do foro privado. Aparentemente o poder político tem um sabor muito melhor que o simples poder económico e social. Não lhe basta ser dono e presidente do Milão, um dos maiores clubes do mundo (o Sócrates, que certamente tem umas quantas acções do Benfica, deve estar todo roído de inveja), de cadeias de televisão, de jornais, de bancos ou de petrolíferas, o homem precisa de mais. Para já basta-lhe conseguir resistir a uma moção de censura que terá de enfrentar dentro de alguns dias, se o fizer pode continuar à frente do governo.



Aos 74 anos, o homem mais rico de Itália e da Europa, tem um cuidado extremo com a aparência e actualmente parece mais novo ou, pelo menos, menos enrugado, que há uns bons anos atrás, e apresenta-se com um cabelo negro como breu, que não sendo farto ainda fará inveja a muitos carecas de meia-idade. Levou com a réplica da catedral de Milão nas fuças e ficou sem marcas, aquilo ou é rijeza mesmo ou então é muita plástica.

Diz-se que trás sempre no bolso, camuflada por um lenço, uma esponja de base, daquelas usadas em maquilhagem, que vai passando regularmente pelo rosto para manter aquela aparência de múmia que ele considera um aspecto fabuloso. E usa o seu fino humor para lamentar não conseguir estar “tão bronzeado como o Obama”.

Já o vimos em fotos comprometedoras, com jovens beldades em festas particulares, capazes de fazer corar o Hugh Heffner. O homem é um verdadeiro apreciador da beleza feminina, e isso não é coisa criticável, mas encher as listas do seu partido, nas eleições para o Parlamento Europeu e nas legislativas italianas para a Câmara dos Deputados, de mulheres sem qualquer experiência política, mas todas elas jovens e atraentes, parece-me um bocado exagerado. Claro que agora a assiduidade dos parlamentares masculinos é muito maior e as bancadas ganharam muito em termos de beleza. Os desgraçados dos deputados portugueses são obrigados a levar com a Manuela Ferreira Leite e com a Odete Santos (felizmente já se deixou disso). Até podem ser mais competentes, qualificadas, inteligentes e conhecedoras que as suas colegas italianas, mas tendo em conta o que se faz no parlamento essas qualidades não me parecem de grande relevo e os italianos ficam a ganhar de goleada. Consta até que, para a coisa não ser demasiado escandalosa, com bacoradas a sair indiscriminadamente das bocas sedutoras e bem pintadas de loiras e morenas, as meninas receberam umas lições sobre matérias consideradas básicas para a sua futura actividade parlamentar, como retórica, orientação política, bases legais e eloquência, para, de vez em quando, abrirem a boca e conseguirem falar de qualquer coisa sem ser de jóias, penteados ou sapatos de salto alto.

A sua maior aquisição neste campo foi parar directamente ao governo. Depois de ter sido modelo e posado nua, a ministra para a Igualdade italiana, Mara Carfagna, actualmente com 34 anos, é considerada por muitos como a política mais bela do mundo. Se isso for verdade, confirma-se a teoria de Berlusconi, segundo a qual:

“É evidente que as mulheres de direita são muito mais bonitas que as mulheres de esquerda.”

Mara Carfagna a ministra

O Sócrates deve ter ficado a roer-se de inveja, embora nunca vá perceber qual é a diferença; para ele direita e esquerda é tudo o mesmo. Digamos que é politicamente ambidextro.

Mas o nosso amigo italiano nem sempre está em plena actividade política, na sua busca incessante para conseguir entalar os italianos em particular e os restantes cidadãos comunitários em geral, e como bon vivant que é gosta de se divertir nos seus tempos livres, mas só aprecia carninha fresca, sendo notória a sua predilecção por jovens recém saídas da puberdade mas já com a escola toda. Ficou conhecido como “Papi” a forma carinhosa como era tratado por uma adolescente de Nápoles, Noemi Letizia, sua protegida. Quando a mulher, Verónica Lario, soube da nova alcunha do seu marido e do modo como a tinha obtido pediu o divórcio. Mais recentemente veio a público o seu envolvimento com outra adolescente, Karima el-Mahroug, uma marroquina de 17 anos também conhecida por Rubi Rubacuori (faz lembrar aqueles nomes de actriz pornográfica, tipo Lolita Clímax).

Noemi Letizia, a protegida

Karima el-Mahroug ou Rubi Rubacuori (nome artístico), outra amiga

Verónica Lario, a ex

No topo da sua lista de amigos está o líder russo Vladimir Putin (o Sócrates deve ter ficado roído de inveja outra vez), também possuidor de um currículo invejável, com quem passa férias e troca presentes fabulosos, para além de manterem negócios estatais duvidosos, com enormes investimentos italianos na Rússia, dos quais se suspeita que ambos sejam beneficiários.

Berlusconi e Putin divertem-se

Já há uns bons anos que o cavalheiro tem vindo a acumular problemas com a justiça, embora apenas umas quantas vezes tenha sido efectivamente condenado, sempre sem chegar a cumprir qualquer pena. Umas vezes acabou amnistiado, outras ganhou os recursos em tribunais superiores, em muitas outras as curvas e contracurvas do direito processual italiano permitiram a prescrição dos processos (isto não vos soa a algo conhecido?). Desde a primeira vez em que se tornou chefe do Governo, em 1994, que não param de chover acusações. Algumas tão comuns em determinado tipo de políticos, como a corrupção, o apropriamento de fundos, o abuso de poder e a fraude fiscal, que já são quase consideradas naturais, enquanto outras, mais pesadas, se revelam mais apropriadas a “padrinhos” que a “papás”, como o perjúrio, a cumplicidade em assassínios e a de manter ligações à máfia.


Os seus modos são grosseiros e a personagem até já foi mandada calar pela Rainha de Inglaterra durante uma cerimónia oficial, a modos daquilo que o Rei Juan Carlos fez com o Hugo Chavez. A realeza sempre teve a mania de mandar calar os outros, coisa com que nunca concordei, mas, em ambos os casos, sou obrigado a dar o meu apoio ao lado monárquico.

Para Berlusconi não existe racismo ou discriminação, é tudo merda e acabou; para ele só há uma raça, a sua, os restantes são pretos, ciganos, árabes, chineses, hispânicos e outros que tais: tudo escumalha. Mas não fiquem a rir-se, pensando que os portugueses, mesmo os brancos, lhe merecem melhor consideração, para ele são mais um bando de grunhos. Excepto os amigos, claro, que cá também tem alguns. E desta vez não creio que o Sócrates tenha motivo para se roer de inveja, ele deve ser um dos eleitos e estar no topo da lista.

Quando estava a escrever isto falei com um amigo italiano sobre o assunto. Ele riu-se e disse-me: - Com tanta coisa para escrever sobre Portugal e os belos políticos que aí tens, estás a perder tempo com o Berlusconi. Isso de máfia, camorra e cosa nostra é tudo folclore, só serve para os filmes, vocês têm organizações desse género mas dão-lhes nomes de banco, de empresa pública, de partido político ou de clube de futebol, no fundo é tudo boa gente. O teu primeiro-ministro e outros governantes de maior ou menor envergadura também já foram vítimas de calúnias e acusações infundadas. Graças a Deus os poucos processos que chegaram a ser concluídos nunca levaram nenhum deles a cumprir qualquer pena efectiva, embora tenha havido uma ou outra condenação. Com recursos, amnistias e prescrições as coisas acabaram sempre em bem. O teu primeiro-ministro também não discrimina, tanto fode os pobres como os remediados. Circularam boatos sobre tudo e mais alguma coisa, desde Freeports a sucateiros, chegando até a por em causa a orientação sexual de algumas dessas pessoas. Ao menos o Berlusconi não é desses, nem se licenciou a um domingo e os exames nunca foram enviados por fax, o homem é tão honesto que prefere não ter um curso em vez de usar esses estratagemas.

Sofia Cabral, deputada do PS mostra que também não fica a dever nada às suas colegas italianas

Posto isto pensei que o melhor era não publicar este post, a mensagem estava clara: Quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras ao telhado do vizinho. Mas depois resolvi voltar atrás, afinal bastava reformular a ideia e deixar que o que estava destinado a ser uma crítica fosse considerado como elogio. O homem deve ser um grande estadista, não é qualquer um que se aguenta tantos anos num lugar daqueles, tirando raras excepções como em Cuba e na Coreia do Norte. Além disso deve ser um grande macho, come tudo o que mexe, sejam loiras ou morenas, desde que tenham uma carinha bonita e umas pernas que se afastem sozinhas, e está provado que as acusações de racismo e xenofobia são falsas, senão não andava embrulhado com a tal marroquina.

Faz movimentar a economia (só em Viagra deve gastar uma verdadeira fortuna) e a ele também não eram uns quantos sobreiros ou uns pântanos mal cheirosos cheios de flamingos e outras aves a servir de argumento para travar o progresso.

Confesso que comecei a escrever isto um pouco indignado e amargo, mas agora estou contente, a minha opinião sobre a situação geral do nosso país alterou-se com as palavras do meu amigo. Fez-me descobrir que não estamos tão atrasados como eu pensava, afinal há montes de coisas em que já estamos ao mesmo nível da Itália.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A maior flor do mundo

"E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?"

Esta é a derradeira frase do livro "A Maior Flor do Mundo", uma história para crianças escrita por José Saramago (pode aceder ao livro, ilustrado por João Caetano, aqui). Estava ele convicto da sua inabilidade para o fazer quando lhe saiu esta pequena mas excelente obra, como excelentes eram quase todas as obras que saiam do seu pensamento para o papel.

Começa assim:
"As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas."

Uma outra obra, desta vez de animação, deu à história original uma dimensão maior, contando-a sem palavras. Boa animação, com a voz do próprio Saramago fazendo uma pequena intervenção. Gostei bastante, por isso aqui a trago. Agora façam o favor de a ver até ao fim.