The Blog Directory Blog Directory Free Blog Directory Blog Listings Barreiro Overnight: 2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Filmes de Natal

Na época natalícia os responsáveis pelas televisões fazem um esforço enorme para colocar no ar os piores filmes que conseguem encontrar. O pessoal fica em casa e as audiências estão garantidas, vai daí, toca de dar lixo à maltinha,

Há uns anos era hábito passar o Pátio das Cantigas, o Leão da Estrela e outros clássicos portugueses do tempo da Maria Cachuxa, entremeados com o Ben-Hur e os Dez Mandamentos. O Sozinho em Casa também tinha lugar garantido. Actualmente somos obrigados a ver o Shreck 8, ou outra coisa no género, e a Corrida Mortal ou outras merdas que tais. Já nem se respeita o facto de ser uma data dedicada à família e ao convívio entre diversas gerações, o que interessa é passar meia dúzia de filmes para crianças e mais uns quantos que nem para adultos são, limitam-se a incluir porrada que até ferve e umas gajinhas boazonas e pouco vestidas.
Por mim façam como muito bem entenderem, mas, ainda assim, vou deixar aos programadores das nossas televisões um conselho: podem continuar a passar os tais filmes para crianças, mal por mal, também ninguém os vai ver. Quanto aos outros, aqueles destinados aos mais crescidos, deixem-se de violência gratuita e sexo explícito, a malta prefere violência explícita e sexo gratuito.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Saramago com ideias claras

O homem disse muita asneira, mas também disse muita coisa certa.

”Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. se encontra a salvação do mundo… e, agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.”

José Saramago – Cadernos de Lanzarote - Diário III – pag. 148

domingo, 12 de dezembro de 2010

Sílvio Berlusconi, o "Papi"

“Não preciso de ir para o governo por nada deste mundo. Tenho casas espalhadas por todo o mundo, barcos espectaculares, belíssimos aviões, a mais bela das mulheres. Ir para o governo é um grande sacrifício que estou a fazer.”

A frase é de Sílvio Berlusconi e o nosso primeiro-ministro deve estar todo roído de inveja. O homem só tem aquela casa que lhe venderam por metade do valor de mercado, não tem barcos nem aviões e desconfia-se que mulher também não. Além disso também está a fazer um grande sacrifício no governo, basta ver a forma como governa, especialmente porque sabe que quando sair vai enriquecer rapidamente e depois já poderá ter algumas daquelas coisas.

Berlusconi fala desta forma, mas faz tudo para se manter no poleiro que ocupa há mais de vinte anos, resistindo aos que, por via do seu afastamento, pretendem um futuro político mais transparente para a Itália e um chefe de Governo menos atolado em suspeições, negócios obscuros e em escândalos variados, alguns do foro privado. Aparentemente o poder político tem um sabor muito melhor que o simples poder económico e social. Não lhe basta ser dono e presidente do Milão, um dos maiores clubes do mundo (o Sócrates, que certamente tem umas quantas acções do Benfica, deve estar todo roído de inveja), de cadeias de televisão, de jornais, de bancos ou de petrolíferas, o homem precisa de mais. Para já basta-lhe conseguir resistir a uma moção de censura que terá de enfrentar dentro de alguns dias, se o fizer pode continuar à frente do governo.



Aos 74 anos, o homem mais rico de Itália e da Europa, tem um cuidado extremo com a aparência e actualmente parece mais novo ou, pelo menos, menos enrugado, que há uns bons anos atrás, e apresenta-se com um cabelo negro como breu, que não sendo farto ainda fará inveja a muitos carecas de meia-idade. Levou com a réplica da catedral de Milão nas fuças e ficou sem marcas, aquilo ou é rijeza mesmo ou então é muita plástica.

Diz-se que trás sempre no bolso, camuflada por um lenço, uma esponja de base, daquelas usadas em maquilhagem, que vai passando regularmente pelo rosto para manter aquela aparência de múmia que ele considera um aspecto fabuloso. E usa o seu fino humor para lamentar não conseguir estar “tão bronzeado como o Obama”.

Já o vimos em fotos comprometedoras, com jovens beldades em festas particulares, capazes de fazer corar o Hugh Heffner. O homem é um verdadeiro apreciador da beleza feminina, e isso não é coisa criticável, mas encher as listas do seu partido, nas eleições para o Parlamento Europeu e nas legislativas italianas para a Câmara dos Deputados, de mulheres sem qualquer experiência política, mas todas elas jovens e atraentes, parece-me um bocado exagerado. Claro que agora a assiduidade dos parlamentares masculinos é muito maior e as bancadas ganharam muito em termos de beleza. Os desgraçados dos deputados portugueses são obrigados a levar com a Manuela Ferreira Leite e com a Odete Santos (felizmente já se deixou disso). Até podem ser mais competentes, qualificadas, inteligentes e conhecedoras que as suas colegas italianas, mas tendo em conta o que se faz no parlamento essas qualidades não me parecem de grande relevo e os italianos ficam a ganhar de goleada. Consta até que, para a coisa não ser demasiado escandalosa, com bacoradas a sair indiscriminadamente das bocas sedutoras e bem pintadas de loiras e morenas, as meninas receberam umas lições sobre matérias consideradas básicas para a sua futura actividade parlamentar, como retórica, orientação política, bases legais e eloquência, para, de vez em quando, abrirem a boca e conseguirem falar de qualquer coisa sem ser de jóias, penteados ou sapatos de salto alto.

A sua maior aquisição neste campo foi parar directamente ao governo. Depois de ter sido modelo e posado nua, a ministra para a Igualdade italiana, Mara Carfagna, actualmente com 34 anos, é considerada por muitos como a política mais bela do mundo. Se isso for verdade, confirma-se a teoria de Berlusconi, segundo a qual:

“É evidente que as mulheres de direita são muito mais bonitas que as mulheres de esquerda.”

Mara Carfagna a ministra

O Sócrates deve ter ficado a roer-se de inveja, embora nunca vá perceber qual é a diferença; para ele direita e esquerda é tudo o mesmo. Digamos que é politicamente ambidextro.

Mas o nosso amigo italiano nem sempre está em plena actividade política, na sua busca incessante para conseguir entalar os italianos em particular e os restantes cidadãos comunitários em geral, e como bon vivant que é gosta de se divertir nos seus tempos livres, mas só aprecia carninha fresca, sendo notória a sua predilecção por jovens recém saídas da puberdade mas já com a escola toda. Ficou conhecido como “Papi” a forma carinhosa como era tratado por uma adolescente de Nápoles, Noemi Letizia, sua protegida. Quando a mulher, Verónica Lario, soube da nova alcunha do seu marido e do modo como a tinha obtido pediu o divórcio. Mais recentemente veio a público o seu envolvimento com outra adolescente, Karima el-Mahroug, uma marroquina de 17 anos também conhecida por Rubi Rubacuori (faz lembrar aqueles nomes de actriz pornográfica, tipo Lolita Clímax).

Noemi Letizia, a protegida

Karima el-Mahroug ou Rubi Rubacuori (nome artístico), outra amiga

Verónica Lario, a ex

No topo da sua lista de amigos está o líder russo Vladimir Putin (o Sócrates deve ter ficado roído de inveja outra vez), também possuidor de um currículo invejável, com quem passa férias e troca presentes fabulosos, para além de manterem negócios estatais duvidosos, com enormes investimentos italianos na Rússia, dos quais se suspeita que ambos sejam beneficiários.

Berlusconi e Putin divertem-se

Já há uns bons anos que o cavalheiro tem vindo a acumular problemas com a justiça, embora apenas umas quantas vezes tenha sido efectivamente condenado, sempre sem chegar a cumprir qualquer pena. Umas vezes acabou amnistiado, outras ganhou os recursos em tribunais superiores, em muitas outras as curvas e contracurvas do direito processual italiano permitiram a prescrição dos processos (isto não vos soa a algo conhecido?). Desde a primeira vez em que se tornou chefe do Governo, em 1994, que não param de chover acusações. Algumas tão comuns em determinado tipo de políticos, como a corrupção, o apropriamento de fundos, o abuso de poder e a fraude fiscal, que já são quase consideradas naturais, enquanto outras, mais pesadas, se revelam mais apropriadas a “padrinhos” que a “papás”, como o perjúrio, a cumplicidade em assassínios e a de manter ligações à máfia.


Os seus modos são grosseiros e a personagem até já foi mandada calar pela Rainha de Inglaterra durante uma cerimónia oficial, a modos daquilo que o Rei Juan Carlos fez com o Hugo Chavez. A realeza sempre teve a mania de mandar calar os outros, coisa com que nunca concordei, mas, em ambos os casos, sou obrigado a dar o meu apoio ao lado monárquico.

Para Berlusconi não existe racismo ou discriminação, é tudo merda e acabou; para ele só há uma raça, a sua, os restantes são pretos, ciganos, árabes, chineses, hispânicos e outros que tais: tudo escumalha. Mas não fiquem a rir-se, pensando que os portugueses, mesmo os brancos, lhe merecem melhor consideração, para ele são mais um bando de grunhos. Excepto os amigos, claro, que cá também tem alguns. E desta vez não creio que o Sócrates tenha motivo para se roer de inveja, ele deve ser um dos eleitos e estar no topo da lista.

Quando estava a escrever isto falei com um amigo italiano sobre o assunto. Ele riu-se e disse-me: - Com tanta coisa para escrever sobre Portugal e os belos políticos que aí tens, estás a perder tempo com o Berlusconi. Isso de máfia, camorra e cosa nostra é tudo folclore, só serve para os filmes, vocês têm organizações desse género mas dão-lhes nomes de banco, de empresa pública, de partido político ou de clube de futebol, no fundo é tudo boa gente. O teu primeiro-ministro e outros governantes de maior ou menor envergadura também já foram vítimas de calúnias e acusações infundadas. Graças a Deus os poucos processos que chegaram a ser concluídos nunca levaram nenhum deles a cumprir qualquer pena efectiva, embora tenha havido uma ou outra condenação. Com recursos, amnistias e prescrições as coisas acabaram sempre em bem. O teu primeiro-ministro também não discrimina, tanto fode os pobres como os remediados. Circularam boatos sobre tudo e mais alguma coisa, desde Freeports a sucateiros, chegando até a por em causa a orientação sexual de algumas dessas pessoas. Ao menos o Berlusconi não é desses, nem se licenciou a um domingo e os exames nunca foram enviados por fax, o homem é tão honesto que prefere não ter um curso em vez de usar esses estratagemas.

Sofia Cabral, deputada do PS mostra que também não fica a dever nada às suas colegas italianas

Posto isto pensei que o melhor era não publicar este post, a mensagem estava clara: Quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras ao telhado do vizinho. Mas depois resolvi voltar atrás, afinal bastava reformular a ideia e deixar que o que estava destinado a ser uma crítica fosse considerado como elogio. O homem deve ser um grande estadista, não é qualquer um que se aguenta tantos anos num lugar daqueles, tirando raras excepções como em Cuba e na Coreia do Norte. Além disso deve ser um grande macho, come tudo o que mexe, sejam loiras ou morenas, desde que tenham uma carinha bonita e umas pernas que se afastem sozinhas, e está provado que as acusações de racismo e xenofobia são falsas, senão não andava embrulhado com a tal marroquina.

Faz movimentar a economia (só em Viagra deve gastar uma verdadeira fortuna) e a ele também não eram uns quantos sobreiros ou uns pântanos mal cheirosos cheios de flamingos e outras aves a servir de argumento para travar o progresso.

Confesso que comecei a escrever isto um pouco indignado e amargo, mas agora estou contente, a minha opinião sobre a situação geral do nosso país alterou-se com as palavras do meu amigo. Fez-me descobrir que não estamos tão atrasados como eu pensava, afinal há montes de coisas em que já estamos ao mesmo nível da Itália.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A maior flor do mundo

"E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?"

Esta é a derradeira frase do livro "A Maior Flor do Mundo", uma história para crianças escrita por José Saramago (pode aceder ao livro, ilustrado por João Caetano, aqui). Estava ele convicto da sua inabilidade para o fazer quando lhe saiu esta pequena mas excelente obra, como excelentes eram quase todas as obras que saiam do seu pensamento para o papel.

Começa assim:
"As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas."

Uma outra obra, desta vez de animação, deu à história original uma dimensão maior, contando-a sem palavras. Boa animação, com a voz do próprio Saramago fazendo uma pequena intervenção. Gostei bastante, por isso aqui a trago. Agora façam o favor de a ver até ao fim.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ficção nacional ganha Emmy

Uma novela portuguesa da TVI ganhou um Emmy na classe das novelas internacionais. Claro que não concorreu com as grandes produções, mas apenas contra produtos similares das Filipinas e de outros países dentro dessa gama a nível televisivo.
A grande estrela da cerimónia foi Rita Pereira, que resolveu mostrar ao mundo aquilo que tem de melhor, tentando assim, quem sabe, dar o grande salto para as produções de verdade, aquelas feitas nos E.U.A., em último caso, o salto para uma cama qualquer já está mais que garantido, resta esperar que seja a cama certa, e não de um porteiro ou qualquer outro funcionário subalterno num obscuro estúdio, algures nas traseiras de Hollywood.
A rapariga disse que tudo aquilo - refiro-me ao que de melhor ela exibe - se deve ao paizinho e à mãezinha, não a um cirurgião plástico. Sorte dela que teve uns pais habilidosos.
Vejamos a opinião do Rui Unas sobre o assunto:


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Amor e paixão nunca são demais

Em finais de 1980, aquele que terá sido o primeiro grupo New Wave português, o Corpo Diplomático (que já descendia do primeiro grupo punk nacional, os Faíscas), termina a sua carreira, depois de um início bastante promissor, com a sua estreia ao vivo a ocorrer no mítico, e também já desaparecido, Pavilhão do Dramático de Cascais, numa noite que ainda hoje recordo, em que fizeram a primeira parte dos norte-americanos The Tubes. que adoro e um destes dias vou apresentar a quem ainda não conhece e recordar aos que já têm esse privilégio.
Do Corpo Diplomático sobram Pedro Ayres Magalhães, Carlos Maria Trindade e Paulo Pedro Gonçalves, a quem se juntam António José de Almeida (ex-baterista dos Tantra, um excelente grupo de rock sinfónico) e Rui Pregal da Cunha, para formarem os Heróis do Mar.
Inicialmente há quem os acuse de neo-fascistas e até de neo-nazis, devido à estética nacionalista das suas roupas e de algumas das letras das suas canções. No fundo não passavam de um grupo pop com inspiração nos chamados neo-românticos, em especial Spandau Ballet e Duran Duran.
Deixando de lado a história da música portuguesa, vamos passar ao que interessa e dá título a este post: Amor e paixão nunca são demais, especialmente a uma sexta-feira.
Para que o fim-de-semana se inicie de uma forma alegre e bem-disposta, fiquem-se com estas duas pérolas dos tais rapazes e, já agora, podem também rir-se do visual do anos 80 que, visto a esta distância, só dá mesmo para gozar.




quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Vira latas - A luta pela sobrevivência

Hoje é dia de uma das maiores greves gerais de sempre em Portugal. As pessoas optaram por esta forma de luta para mostrar a quem os governa que não conseguem aguentar muito mais. No fundo estão a lutar pela sobrevivência, tal como o Vira Latas, a personagem principal desta curta metragem de animação. Vem a propósito.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Reflexões anarquistas


"Tenho muito a dizer. Mas não me lembro agora..."

Johnny Ramone - músico (Isto se partirmos do princípio que os Ramones faziam música. Quanto a ser anarquista, duvido. Acho que ele nem sabia o que era isso.)


"A propriedade privada introduz a desigualdade entre os homens, a diferença entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, até a predominância do mais forte. O homem é corrompido pelo poder e esmagado pela violência."

Jean-Jacques Rousseau - filósofo (Não sendo propriamente anarquista escreveu
Do Contrato Social, o qual inspirou muitos dos revolucionários e regimes nacionalistas e opressivos subsequentes a esse período, um pouco por toda a Europa continental. Inspirados nas idéias de Rousseau, os revolucionários defendiam o princípio da soberania popular e da igualdade de direitos.)


" Se o dinheiro fosse merda os pobres nasciam sem cú."
Um popular qualquer - talvez desempregado (Não sendo também anarquista, nem tendo sequer escrito qualquer obra, produziu esta frase insofismável que continuará, provavelmente para sempre, como uma das grandes verdades da história da humanidade.)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A história dos dois leões

Certa vez dois leões fugiram do Jardim Zoológico. Um deles resolveu ir para o campo, onde se internou na floresta para não ser encontrado, o outro preferiu ficar pela cidade, achando que seria mais fácil encontrar alimento.
Passados alguns dias o leão que fugira para o campo apareceu na porta do Zoológico, magro, esfomeado e com péssimo aspecto, de tal forma que nem o tratador o reconheceu. O director nem o queria receber, com medo que um animal em tão mau estado viesse conferir má reputação ao Zoo.
Ao fim de muitos meses já ninguém se lembrava do outro leão, aquele que tinha ficado na cidade, até que um dia alguém o denunciou e foi apanhado e enviado para a antiga jaula. Estava gordo, bem tratado e de excelente saúde.
Quando se encontraram, o outro perguntou-lhe como tinha conseguido manter-se alimentado e saudável, ele na floresta ia perecendo à fome e fora obrigado a entregar-se, enquanto o seu amigo sobrevivera na cidade quase um ano sem problemas.
O leão "citadino" explicou ao amigo:
- Foi fácil meu caro, escondi-me numa repartição pública. Sempre que sentia fome comia um funcionário e ninguém dava pela falta dele.
- Então por que resolveste voltar para cá, acabaram-se os funcionários públicos?
- Não meu amigo, os funcionários públicos nunca acabam, há sempre mais e mais. E eu não tencionava voltar nunca. Mas um dia cometi um erro imperdoável que ditou o meu fim. Já tinha comido o director geral, um director de serviços, um chefe de divisão, dois chefes de repartição, um chefe de secção, uma série de funcionários diversos, sem que ninguém alguma vez tivesse dado pela falta deles! Até ao triste dia em que resolvi comer o que tratava do cafézinho...

Já agora, para a coisa não parecer demasiado política, ainda por cima a pouco mais de um dia de uma greve geral, vou deixar aqui mais umas palavras relacionadas com leões, começando por uma outra história:

Certo dia um burro, uma raposa e um leão andavam à caça. O dia correu-lhes bem e conseguiram apanhar várias peças de caça, tendo o leão encarregue o burro de as dividir. O burro dividiu o produto da caçada em três partes igual, dando uma a cada um deles. O leão ficou bastante insatisfeito com a divisão e dirigiu-se ao burro rugindo e rangendo os dentes, acabando por o comer.
Após ter comido o burro, o leão encarregou a raposa de dividir entre ambos o produto da caçada. Esta juntou as três partes em que o burro tinha dividido a caça e entregou tudo ao leão, sem deixar nada para si.
O leão ficou surpreendido e perguntou à raposa: - Quem te ensinou a fazer divisões desta maneira?
Ao que a raposa respondeu prontamente: - Foi a experiência do burro.

Esta historinha aprende-se na escola, mas naquelas escolas para adultos, chamadas universidades. É uma história que tem a virtude de não necessitar de explicação, explica-se a si mesma, quem tenha um pouco de inteligência entende o âmago da coisa. Fundamentalmente serve para introduzir a temática dos pactos leoninos, que são proibidos pela lei nacional.


Artº 994 do Código Civil Português
(Pacto leonino)

É nula a cláusula que exclui um sócio da comunhão nos lucros ou que o isenta de participar nas perdas da sociedade, salvo o disposto no n.º 2 do artigo 992.º

(Os sócios de indústria não respondem, nas relações internas, pelas perdas sociais. Sócio de indústria é aquele cuja entrada para a sociedade é concretizada em trabalho, não em espécie ou em dinheiro.)

Que pena não existir uma proibição dos pactos leoninos nas relações entre dirigentes e dirigidos, muita falta fazia...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Construção super-rápida

A China é conhecida pela sua grande capacidade de trabalho, devida não só ao grande número de trabalhadores a baixo custo de que dispõe, mas também, a maioria das vezes, pela utilização de trabalho escravo em que as pessoas são barbaramente exploradas.
Aqui vemos a construção de um hotel de 15 andares que ficou concluída em apenas 6 dias. É obra, ainda que se saiba que a maior parte do segredo reside no facto do mesmo ter sido construído em módulos pré-fabricados e depois montados no local.
Mesmo assim não se trata de uma daquelas obras aldrabadas pelas quais os chineses são famosos, o edifício, o Ark Hotel, situado na cidade de Changsha, dispõe de isolamento térmico e acústico e é capaz de resistir a sismos de grau nove. Mais uma proeza da moderna China.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Michel Lauzière o Mestre do Invulgar

Não sei se se trata de bater qualquer recorde ou se terá uma outra intenção, o certo é que o indivíduo do vídeo seguinte é pessoa bastante engenhosa e, pelos vistos, amante de música. É uma curiosidade, é musical e é, de certo modo, interessante. O homem chama-se Michel Lauzière e proclama-se o Mestre do Invulgar.



Mas os talentos do cavalheiro não se esgotam aqui, há mais:





Pode assistir a muitas outra performances, para além daquilo que se encontra nestes pequenos filmes. Há mais música inusitada, tocada de formas quase inimagináveis, feita por este Mestre do Invulgar, basta pesquisar na internet para encontrar.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Deputados na Suécia

A Suécia é uma monarquia constitucional, com um sistema parlamentar de governo, em que a realeza está despojada de qualquer poder que não seja meramente decorativo. Assim sendo, quem na realidade detém o poder político são os representantes eleitos pelo povo, só que o fazem de uma forma totalmente diferente daquela que é comum em Portugal, nomeadamente não aparecem a queixar-se do sacrifício que fazem em nome da nação, como foi o caso recentemente aqui comentado de um senhor deputado à Assembleia da República.
Os parlamentares suecos vivem em pequenos apartamentos que lhes são destinados, sem quaisquer empregados que lhes façam as tarefas domésticas, pelo que são obrigados a cozinhar, arrumar e até a lavar a própria roupa. Por cá os deputados vão comer ao Gambrinus e ao Tavares Rico e para lavar roupa suja reservam as sessões parlamentares, de preferência quando há câmaras de televisão por perto.
Mas as diferenças não ficam por aqui; os deputados não têm direito a secretárias ou assessores, nem a carros com ou sem motorista, e até à década de 90 dormiam num sofá no próprio gabinete que lhes é destinado nas instalações da assembleia. O primeiro-ministro vive numa residência oficial com trezentos metros quadrados, sem empregados e, segundo o porta-voz do governo, lava e passa as suas próprias camisas. Consta até que a sua tarefa preferida é arrumar a casa, coisa que, aparentemente, o seu homólogo português não sabe nem está interessado em fazer.
Realmente a vida na Suécia é muito diferente, talvez se deva a serem ricos, evoluídos, cultos e civilizados. Ao contrário, nós somos pobres, atrasados, burros e primitivos, razão pela qual estamos habituados a ser governados e representados por incompetentes que se fazem pagar a peso de ouro, apaparicados com toda a espécie de mordomias e aos quais ainda ficamos a dever o favor de se terem dado ao trabalho de aceitar cargos de tão grande responsabilidade em nome de 10 milhões de carneiros sem vontade própria nem merecedores de tão ilustres políticos nos seus órgãos dirigentes.
Isto não interessa para nada, em especial para a classe política, mas vejam só como vivem os deputados suecos, são mesmo parvalhões coitados...



Mais uma achega para uma melhor compreensão sobre a vida dos titulares de cargos políticos na Suécia:



Por cá, como sabemos, a coisa é "ligeiramente" diferente, mas não faz mal, os moços precisam e nós, se os queremos ter lá, só temos é de pagar...





Não quero exagerar mas há aqui qualquer coisa que me faz lembrar uma canção do Zeca Afonso. Será só impressão minha?


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Amor com oito pernas

Trata-se na realidade de tentáculos e não de pernas, mas o amor é indiscutível e a prova disso está nos trabalhos a que o pobre polvo (felizmente não é o polvo adivinho, o Paul, que esse já morreu) está disposto a meter-se para tentar recuperar a sua amada. Este filme recebeu, entre outras distinções, o Oscar da Academia em 2009 para a melhor curta metragem de animação. Parece-me um bom tema para começar o fim-de-semana.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Preciso de trabalho

Podem pensar que se trata de mais um título para ilustrar sabe-se lá o quê, mas não se trata de nada disso. A questão é que estou mesmo necessitado de um trabalho, remunerado claro, que daqueles do "obrigado" sempre se vai arranjando qualquer coisa para fazer.

Todos sabemos que a época é de crise e isto anda difícil para todos. Como já devem calcular, eu não sou excepção (atenção que, se quiser, também sei escrever de acordo com o novo acordo ortográfico, embora, por uma questão de hábito, use preferencialmente o antigo), e neste momento encontro-me num certo aperto devido à falta de trabalho.

Depois de usar um bocadito esta minha cabecinha pensei que talvez não fosse má ideia tornar pública a minha necessidade e que este seria um bom meio para o fazer. Claro que responder a anúncios e enviar currículos também foram hipóteses consideradas e postas em prática, mas esta pareceu-me uma forma original de tentar chamar a atenção de alguém que possa necessitar dos meus préstimos, tentando assim destacar-me dos montes de candidaturas, currículos e cartas de apresentação que enchem os departamentos de recursos humanos das empresas e os escritórios dos empresários.

Prometo responder a todos os que entrem em contacto comigo e desde já agradeço a quem o venha a fazer. Também não coloco qualquer fasquia em termos de remuneração, que espero apenas possa ser justa tendo em conta o trabalho a desempenhar e a minha capacidade para o fazer.

Neste meu pedido de trabalho não vou fazer referência a quaisquer dados pessoais meus, mas prestar-me-ei a apresentar esses dados pessoais e curriculares, bem como a estar presente em entrevistas ou provas e a prestar todo o tipo de informações que se entendam ser necessárias para uma correcta avaliação das minhas competências e capacidades.

Posso adiantar que, até hoje, já trabalhei em diversas funções e em diversas áreas de trabalho, como trabalhador por conta de outrem e também como profissional liberal. Desde a área industrial, passando pela comercial, pelo marketing e publicidade, pela defesa nacional (fui militar contratado no exército) e pela área jurídica, já tenho bastantes anos de experiência profissional.

Sou uma pessoa inteligente e observadora, activa e com grande capacidade de aprender e de ensinar. Tenho qualidades de liderança e espírito de grupo, sou empreendedor, solidário e quando acredito num projecto ou numa pessoa sou capaz de uma dedicação total e de uma fidelidade a toda a prova tendo em conta a prossecução dos objectivos propostos.

Possuo uma cultura bastante boa, diria até que um pouco acima da média, tenho um curso superior tirado na Universidade de Lisboa (dos antigos, de 5 anos), domino a generalidade das ferramentas informáticas, falo e escrevo razoavelmente bem inglês e francês. Sou simpático, educado, afável, alegre, dinâmico, de trato fácil e tenho boa apresentação.

Espero que este post, um bocado diferente dos habituais, cumpra o propósito com que foi feito e alguém me contacte, para isso vou deixar aqui um endereço de e-mail que criei especialmente para o efeito e é o seguinte:
procuro_trabalho_ja@hotmail.com

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Born to be wild

Era apenas um pequeno restaurante na berma da estrada, um daqueles locais calmos onde apetece parar para descontrair um pouco e comer qualquer coisa. Tirando os donos da casa estavam apenas mais meia dúzia de pessoas no estabelecimento.

De repente ouviu-se um barulho ensurdecedor que quebrou a calma do local e um grupo de motociclistas parou junto à entrada no meio de uma nuvem de poeira e de um enorme alarido. Estacionadas as motos o grupo entrou no restaurante falando alto, dando palmadas uns nos outros e soltando sonoras gargalhadas. Já livres dos capacetes e luvas, e também de uma parte do pó que traziam nos fatos negros, dirigiram-se ao balcão onde pediram cervejas.

Perante o grupo ruidoso de motociclistas vestidos de cabedal e exibindo tatuagens, uma parte deles com capacetes que faziam lembrar os do exército nazi, era notório que as restantes pessoas se sentiam atemorizadas e inseguras.

Foi então que um deles, com uma enorme caveira bordada nas costas do blusão de cabedal sem mangas, um piercing no nariz e uns brincos enormes nas orelhas, dignos de qualquer pirata das Caraíbas, se dirigiu ao homem que estava no balcão e lhe perguntou se tinham telefone. O homem indicou-lhe um telefone público ao fundo da sala. Quando o tipo da caveira pegou no telefone fez-se silêncio e todos os presentes puderam ouvir a conversa:

- Tou, mãe? Olha, é só para avisar que hoje vou chegar um bocadinho mais tarde a casa.




Born to be wild, uma canção de 1969 que foi o maior sucesso do grupo Steppenwolf, é considerada um verdadeiro hino dos motociclistas, tendo sido usada como tema para o filme com o mesmo nome, também ele um verdadeiro clássico do cinema, com Peter Fonda e Dennis Hopper nos principais papeis. Tanto a música como o filme simbolizam a rebeldia e a liberdade que se associam como sendo características dos chamados motards. O termo heavy metal relacionado com a música rock aparece pela primeira vez na sua letra, motivo pelo qual alguns a consideram a primeira música dentro desse estilo.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Adora Svitak, uma pequena lição para os grandes

Adora Svitak tem apenas 12 anos, mas a sua forma de pensar e de exprimir as suas ideias é verdadeiramente impressionante, mesmo sem levar em conta a sua pouca idade, tal é a coerência do seu discurso e a acutilância do seu pensamento. Esta criança norte-americana estuda pela internet, onde também dá conferências sobre escrita criativa e leitura, e desde os 7 anos que sonha ganhar os prémios Nobel da Paz e da Literatura.

Alcunhada por alguns de "advogada das crianças", em Fevereiro deste ano tornou-se a mais nova oradora de sempre nas conferências TED (Technology, Enternaiment and Design), as famosas TED Talks, às quais espero voltar aqui no blogue dentro de algum tempo e cuja transmissão está prevista em um dos canais por cabo nacionais ainda este ano. Estas conferências são conhecidas por nelas partilharem as suas experiências pessoas brilhantes de todo o mundo. Infelizmente nem todas se encontram legendadas em português no respectivo site, o que se torna um embaraço para quem gostaria de as assistir mas não domina o inglês.

À laia de introdução à conferência que deixou perplexos todos os que a ela assistiram, aqui ficam algumas frases de Adora:

"As crianças ainda sonham com a perfeição. A nossa audácia ajuda a alargar as fronteiras da realidade."

"Não diria que sou muito diferente das outras crianças: faço asneiras, adoro pizzas e doces e ando à luta com a minha irmã. Contudo, sempre gostei de ler e escrever, e pensei que toda a gente também gostava." "Sempre" é desde os quatro anos, e o choque aconteceu aos cinco: "Percebi que nem todas as pessoas gostavam de ler, na realidade algumas detestavam. Foi um dos momentos mais decisivos da minha vida."

"Aquilo que a maioria dos adultos faz é para benefício da próxima geração, apesar de a voz das crianças ser das mais poderosas. Cada criança pode fazer a diferença."

Ela escolheu a educação. Durante o dia dá aulas e anda no 8.o ano da escola pública online Washington Virtual Academies (saltou um ano), mas acredita no poder da música e do desporto. "Espero um dia poder fazer a diferença levando educação aos países em desenvolvimento para impedir as sementes dos conflitos de crescerem."



Para assistir ao vídeo com legendas devem seleccionar a opção view subtitles, na parte inferior, e escolher depois a opção de português, caso seja essa a linguagem pretendida.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Trabalhar com ele na mão

Os sucessivos governos com que temos sido agraciados nas últimas décadas têm-se encarregado de fazer alastrar o chamado desemprego de forma tão aplicada que, hoje em dia, já existem em Portugal mais de meio milhão de pessoas sem emprego, não contando com todos aqueles que, por motivos vários, não fazem parte das estatísticas.
Quando tantos se queixam da falta de trabalho, alguns não têm mãos a medir, tal a carga laboral que suportam. O próximo vídeo apresenta-nos um casal que podemos afirmar com toda a verdade "trabalha pra caralho!".
No entanto vejo-me obrigado a salientar que o vídeo já tem uns quatro anos, pelo que o mais certo é o simpático casalinho já ter ido a andar e agora passar a maior parte do tempo "sem fazer um caralho", tirando as idas regulares ao centro de emprego local e aos serviços da segurança social mais próximos.
Por hoje chega de actividade bloguística, ou, mantendo-me dentro do tema, como dizem o nosso amigo e a esposa quando o relógio marca as cinco da tarde: "Hoje não faço nem mais um caralho!"


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Coisas do Diabo

Um indivíduo morre e vai direitinho ao inferno. Chega lá com um ar entristecido, bastante abatido e desolado. O Diabo fica com um bocado de pena e tenta mostrar-lhe que no inferno também há coisas divertidas para fazer.



- Às segundas-feiras fazemos sempre o Dia da Bebida. Cerveja, vinho, champanhe, uísque...
- Eu não bebo! - disse o homem.
- É uma pena! Mas às terças temos o Dia do Tabaco, montes de cigarros e charutos, tudo das melhores marcas.
- Eu também não fumo!
- Então vai gostar das quartas, de certeza. É o Dia do Jogo. Póquer, dados, bilhar...
- Eu não jogo!
- Aposto que vai gostar das quintas. - disse o Diabo com um grande sorriso - É Dia das Drogas, temos marijuana, haxixe, cocaína, heroína... Tudo com fartura e da melhor qualidade.
- Mas eu não consumo drogas! - diz o homem com um ar ainda mais aborrecido do que tinha ao chegar.
- Ouve lá! - diz o Diabo, já farto de tantas negativas - Tu por acaso és gay?
- Não!
- Bem, pelos vistos também vais detestar as sextas-feiras...


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mariazinha - Uma (pequena) história de amor

Desde pequena que a Mariazinha manifestava vontade em aprender e o desejo de ser “alguém”. Ter deixado a escola na terceira classe e trabalhar a dias desde os 16 anos não a ajudaram em nada a alcançar os seus objectivos.

A rapariga frente ao espelho - Picasso

Embora bastante engraçada e atraente, nunca foi moça de grandes namoros. Quando passava na rua não havia rapaz que não lhe deitasse o olho. O pessoal que se juntava nas portas das tabernas da vila chamava-lhe "a jeitosa". Alguns garantiam que já tinham dado umas "voltinhas", outros, porventura mais brutos, diziam que já a tinham "comido", mas na realidade ninguém podia afirmar que tal fosse verdade.

Um dia encontrou o Bonifácio e a paixão despertou. Recorda-se como se fosse hoje da primeira vez que o viu entrar no posto da GNR lá da vila, vinha ela do Minipreço carregada com um garrafão de lixívia e uma palete de leite.

Depois disso tornou a vê-lo entrar no posto várias vezes, mas só à terceira é que ele reparou na Mariazinha e lhe mandou uma piscadela de olho. Os olhos dela brilharam mais e a sua face enrubesceu quando ele lhe disse:

- És pouco boa sim…

Daí a ficar completamente apaixonada foi um pequeno passo, não conseguia deixar de pensar naquele rapagão que, sempre que a via, lhe mandava uns piropos que a deixavam toda nervosa.

Descobriu que aquele seria o homem da sua vida na véspera do seu 26º aniversário. Era domingo e ela, como costumava fazer, ao sair da missa passou perto do posto, na esperança de o ver. Quis o destino proporcionar-lhe uma daquelas coincidências que mudam a vida às pessoas, e lá estava o seu deus grego a sair do jipe da GNR. Ele viu-a aproximar-se, caminhando no seu vestido dominical, com o cabelo arranjado numa mise feita pela prima Alice, que não é cabeleireira mas tem muito jeito. Abrandou o passo antes de entrar à porta, dando-lhe tempo para chegar mais perto. Quando ela passou ele mirou-a de alto a baixo, soltou um assobio daqueles que fazem uííííque uíííuu, e foi com o olhar fixo no seu avantajado par de mamas de moça do campo alimentada com produtos naturais que lhe lançou a frase que acabaria por a levar ao altar:

- Comia-te toda!

Na realidade não foi ao altar. Juntaram os trapinhos, amantizaram-se, como diz a Ti Ermelinda, e passados vinte e tal anos, três gaiatos, muita chapada, uns quantos olhos negros e algumas (grandes) dificuldades, lá continuam juntos, com a Mariazinha muito apaixonada e orgulhosa do seu Bonifácio, o Mangas, como é mais conhecido na Damaia, onde vivem agora.

Desde o início pensou que ele era das brigadas à civil da GNR, pois sempre que o via era o único que não estava fardado. Foi quando se juntaram que descobriu a verdade, mas podia tê-lo feito mais cedo, bastava reparar que todas as vezes que o viu sair do jipe e entrar no posto ele ia algemado.

A Mariazinha não sabe ao certo o que fez o Bonifácio mudar; se foram os três anos no Pinheiro da Cruz, os dois no Linhó ou os vinte e seis meses no Estabelecimento Prisional de Lisboa, a verdade é que o seu homem está diferente. Deixou-se dos pequenos furtos e das falcatruas variadas e diz que agora é um homem à maneira. A Mariazinha acredita, embora saiba que com o currículo dele não é fácil encontrar empregos compatíveis, mas pelo menos não se tem deixado apanhar, a polícia não lhe aparece à porta quase há um ano e por causa do subsídio até anda nas Novas Oportunidades para fazer o 9º ano.

A vontade de aprender não abandonou a Mariazinha, continua curiosa e agora que tem um estudante lá em casa não pára de fazer perguntas. Quer saber o que é o Orçamento do Estado, se foi alguma doença má que fez o cabelo do Jorge Jesus passar de branco a loiro palha, se é verdade que há menos cães vadios nas ruas porque os donos dos restaurantes chineses os apanham, e por aí fora.

Até chegou a ter uma ideia genial para aplicar na aviação: quando um avião cai eles vão lá e conseguem achar a caixa negra intacta, porque é feita de um material muito resistente a tudo; então porque não fazem o avião todo desse material? Quando caísse ficava inteiro. Chegou a pensar registar a ideia mas o Bonifácio tirou-lhe tal coisa da cabeça.

- Deixa-te disso Maria! A ideia até não é má, mas tu não vez que os sucateiros é que dominam isto tudo? Aquele que lidava com comboios tinha Portugal na mão, agora imagina os sucateiros dos aviões, devem controlar o mundo inteiro. Se souberem que tu tens uma ideia dessas, para os aviões caírem e não ficarem feitos em sucata, mandam logo limpar-te o sarampo. Os sucateiros dos aviões devem ser fodidos se lhes tentarem estragar o negócio. Vai lá vai! Daaasse, que a mulher é parva!

Ela, a muito custo, lá desistiu da coisa, mas nunca deixou de pensar que se aquilo fosse para diante podia finalmente ser alguém na vida. Quem sabe se um dia não seria convidada para contar a história da sua vida nas Tardes da Júlia e tudo?

Há pouco tempo a Mariazinha chegou a casa estava o Bonifácio a ver o Glorioso na televisão. Agora estava mais atenta aos pormenores, para não se repetirem situações como a das algemas (a mãe ainda hoje continua a dizer-lhe que se ela não fosse cega reparava logo nas algemas, via que o rapaz não era nenhuma flor de cheiro, poupava muitos dissabores e até podia ter vindo a casar com um GNR de verdade) e, por isso, bastou-lhe olhar o resultado no ecrã, para concluir de imediato que não era a altura apropriada para grandes conversas com o seu mais-que-tudo. Mesmo assim arriscou.

- Sabes uma coisa amorzinho? A filha da dona Micas, aquela senhora onde vou fazer a limpeza às quartas, agora diz que é budista.

- Quero lá saber disso, eu acho que ela é mas é fufa. – disse ele sem tirar os olhos da televisão. - Filho da puta não marca uma falta destas caralho! Sem gamanço távamos a ganhar aí por uns quatro a zero. Cabrões de merda!

- Não te enerves Bonifácio José, olha o colestrol! – disse a Mariazinha enquanto ia buscar mais uma bojeca para acalmar o companheiro. – Tu sabes o que é isso do budismo amorzinho?

- Olha, são uns gajos carecas, vestidos com uns trapos cor-de-laranja, que partem tijolos com a cabeça e acreditam na reencarnação.

- A reencarnação? Isso é o quê amorzinho?

- Os gajos acreditam que depois de morrerem voltam cá, mas no corpo de um animal diferente. O gajo pode vir num cão ou num pássaro ou noutro bicho qualquer. Isso é que é a reencarnação.

- Ai que engraçado amor. A Tininha afinal tem razão em ser budista, ao menos, quando morrer, sempre nasce outra vez. Olha, eu cá se fosse budista e morresse gostava de voltar cá no corpo duma vaquinha.

- Não estúpida! Nunca percebes nada. Tem de ser num animal diferente!

- Ai amor, tem calma. Lá porque estão a perder não precisas de te enervar, sabes que isso faz-te mal à intenção arterial e depois sobem-te os diabetes.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A estupidez está de luto

A notícia teve direito a divulgação nos mais variados órgãos de comunicação social: Morreu o polvo Paul, o tal que, dizem, acertava nos resultados do mundial de futebol. Para mim isto só merece um comentário: A estupidez está de luto! Ainda por cima o animal morreu em vão, nem para um arroz serviu. Paz aos seus tentáculos.

A título de homenagem (não sei se ao polvo se à estupidez), aqui fica uma receita, assim a modos de inscrição aposta em lápide funerária.

Polvo à Lagareiro

Ingredientes
  • 1.5 kg de Polvo
  • 6 Dentes de alho
  • 2 folhas de louro
  • Batatas pequenas
  • Coentros a gosto
  • 2 cebola pequena

Preparação

Coza o polvo na panela de pressão por 15 a 20 minutos (não é necessário colocar água, o polvo coze na própria água que liberta), junte 1cebola, 1 dente de alho e 1 folha de louro.

À parte, lave as batatas, e, sem descascar, coloque-as num recipiente para o forno, com bastante sal. Leve ao forno por +- 20 minutos, e quando estiverem cozinhas esmurre-as, ainda quentes.

Depois de cozido, corte o polvo em parte (pode simplesmente separar os tentáculos) e coloque num tabuleiro de barro (de preferência). Corte a cebola e os alhos em laminas fininhas e coloque por cima do polvo, assim como a folha de louro, os coentros picados e sal a gosto. Depois de retirar o sal em excesso, coloque as batatas também no tabuleiro. Regue com bastante azeite, e leve ao forno por +- 20 minutos.

Sirva quente e acompanhe com salada.

Esta receita foi retirada do site Aprender e Fazer.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A lenda do entalado

Portugal, talvez devido à sua idade, é um país rico em lendas (ao menos somos ricos em qualquer coisa). Uma das mais antigas relata a história de Martim Moniz, um desgraçado que teria morrido entalado numa das portas do castelo de Lisboa, aquando da conquista da cidade aos Mouros, por D. Afonso Henriques, em 21 de Outubro de 1147, faz hoje precisamente 863 anos.

Reza a lenda que D. Afonso Henriques, aproveitando a passagem por esta região de uma enorme quantidade de Cruzados franceses que se dirigiam à Terra Santa para praticar o desporto favorito dos ricos daquela época - basicamente consistia em matar muçulmanos e pilhar os seus bens, à mistura com umas violações e outras coisitas do género - terá solicitado a sua ajuda para conquistar Lisboa aos Mouros, que a tinham tomado por volta do ano 711 da nossa era. Em troca poderiam saquear e pilhar a cidade a seu bel-prazer, bem como fazer os escravos que entendessem. Tal hábito criou escola entre os futuros governantes portugueses e ainda hoje se mantém.

A conquista levou bastante tempo, pois o castelo revelava-se inexpugnável. Até que um dia, o tal de Martim Moniz, aproveitando o que se crê ser uma saída dos Mouros, numa tentativa de repelir mais um assalto, decide meter-se onde não era chamado e acaba por ficar entalado numa das portas do castelo. Os muçulmanos bem tentaram fechar as portas, mas o tal Martim, como hoje é moda chamar-se aos meninos para dar um ar "fino", era um bocado anafado e, juntamente com o peso da armadura revelou-se um fardo difícil de remover. Os seus gritos soavam longe e acabaram por atrair mais cristãos, os quais conseguiram forçar a entrada e assim penetrar nas defesas dos Mouros. Como recompensa Afonso Henriques deu o seu nome à porta do castelo onde pereceu entalado. Muitos anos mais tarde ganhou o direito a ostentar o seu nome num largo da cidade.

A lenda insiste em que Martim Moniz terá gritado para chamar os companheiros. Não duvido que tal tenha acontecido, mas certamente não lhe terá passado pela cabeça que, com isso, pudesse contribuir para a conquista da cidade, o que o homem certamente queria era livrar-se de tal entalão pois as portas eram pesadas e devia doer como o caraças. Fosse como fosse, acabou por morrer, tornando-se no primeiro entalado português, o primeiro sacrificado para que outros, mais ricos e poderosos, continuassem com a sua boa vidinha. E assim a futura capital do país foi conquistada e os Mouros expulsos, embora algumas pessoas insistam na tese segundo a qual de Vila Nova de Gaia para baixo continuamos todos a ser Mouros.

Desde então muito mais entalados têm visto a luz do dia e também apagado o maçarico, neste cantinho lusitano, enquanto proliferam os outros, aqueles pelos quais tantos se entalam, sem, no entanto, se dignarem conceder-lhes a honra de ver o seu nome dado a uma porta de castelo ou a um largo na cidade, como fizeram ao tal Martim. Os entalados de agora, quando muito, limitam-se a ver o seu nome em avisos das Finanças ou em listas do IEFP.

Ainda hoje a sua memória perdura, não apenas junto dos sem-abrigo que são em grande quantidade naquela zona, mas também, e em especial, junto das putas e dos vendedores de droga que, dia e noite, faça chuva ou faça sol, se reúnem no Largo do Martim Moniz aguardando pelos respectivos clientes, sem sequer reparar no castelo que encima a Mouraria (este link não deve passar sem um visionamento, contém uma galeria de fotos de excelente qualidade, da autoria de Dias dos Reis, das quais a seguinte faz parte).

Grande Martim Moniz, foste o primeiro entalado, mas descansa, não terás sido o último e a tua legião de seguidores não pára de engrossar. A continuar assim, um dia seremos tantos que o melhor será chamar os Mouros de volta.


As avós, o crochet e os novos tempos

Recebi hoje estas fotos enviadas por um amigo, juntamente com o pedido para divulgar uma informação. Pede-me ele que diga a toda a gente o seguinte: "Nunca deixem a vossa moto na casa da avó!"

O inverno não tarda nada está aí e em casa de todas as avózinhas a actividade de fazer crochet está em plena época alta. As que não têm netos ou bisnetos pequenos a quem possam fazer as tradicionais botinhas, gorros, luvas ou meias, são obrigadas a optar por peças diferentes, algumas bastante originais, como é o caso presente.

Os naperons para colocar em cima das televisões, os quais eram uma excelente alternativa, já saíram de moda, não por as pessoas finalmente se terem apercebido de quão foleiros eram, mas por um motivo muito mais básico: actualmente já quase não existem as tradicionais televisões, com muito espaço para os ditos adornos, normalmente encimados por uma jarra de flores, pacientemente feitos pelas avózinhas de todo o mundo, pois na maioria das casas já reinam os plasmas e LCDs, os quais não permitem que se lhes coloque em cima seja o que for, de tão estreitos que são.

As pobres avós é que têm de puxar pela imaginação, procurando descobrir novos usos para os seus talentos crochetísticos. O resultado está à vista. Por isso, e por muito engraçado que seja o produto final, vou tentar evitar-vos alguns embaraços, dando eco ao apelo feito pelo meu amigo:
Nunca, MAS NUNCA MESMO, deixem as vossas motos em casa da avózinha!...








domingo, 17 de outubro de 2010

Gosto de palavrões

Começo por deixar um aviso: se pensa que o título está aqui em vão, esqueça! O vídeo contém mesmo palavrões, pelo que a linguagem usada pode ser considerada imprópria ou até mesmo ofensiva para algumas pessoas. Se é uma delas não o deve visionar, embora fique com razões para lamentar-se já que o texto do multifacetado Miguel Esteves Cardoso (um intelectual com pinta de tótó e cara de puto queque com cinquenta e tal anos, que, entre muitas outras coisas, se destacou como professor universitário, jornalista, escritor, filósofo, produtor musical, fundador de jornais e revistas, dramaturgo, etc.), aqui lido pelo actor Miguel Guilherme, é óptimo e muito engraçado. Apesar de todos os palavrões, e também por via deles, é uma pérola de humor e um excelente jogo de palavras, arte que o autor sempre dominou com maestria. Literal e literáriamente imperdível.



"É pior falar mau português do que falar mal em bom português!"

No dia em que completou 55 anos de idade, o passado 25 de Julho, MEC, como ficou conhecido, publicou uma crónica no jornal Público, intitulada "O dia dos meus anos", de onde foi retirado o extracto seguinte:

"Quando tinha 35 anos, escrevi estupidamente que já podia morrer, porque já tinha tido todas as felicidades que se poderia ter. A minha mãe zangou-se e mandou-me nunca mais falar na morte, antes de saber o que era a vida. Tinha razão. Tanta razão que eu hoje também não sei o que digo. Sou cada vez mais feliz. Estou cada vez mais apaixonado. Nunca tive tanta sorte. A partir de agora é como se tivesse 95 anos: cada hora a mais é um roubo que fica roubado. Que me move e comove."