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terça-feira, 28 de outubro de 2008

D10S


Acerca dele existem livros, canções, capas de revista, filmes, t-shirts, tatuagens e sei lá que mais. Ainda no passado sábado o Doclisboa encerrou com a exibição de um documentário intitulado "Maradona by Kusturica". Sendo um ícone mundial (tanto no bom como no mau sentido), ele é, a par de Evita e Gardel, mas destacado de ambos pois é o único que se transformou em mito ainda vivo, quando executava a actividade que o lançou para o convívio do deuses; jogar futebol, o maior herói e símbolo mais amado da Argentina.


Ele vingou a Argentina da derrota militar sofrida durante a guerra das Malvinas (Falklands para os adversários) em 1982, derrotando a Inglaterra no Mundial de 1986, primeiro com a ajuda da "mão (do seu agora congénere) Deus", e depois com aquele que continua sendo considerado o melhor golo de sempre, pelo menos em competições de tão alto nível.

Ele levou o Nápoles, habitual frequentador das divisões secundárias em Itália, onde a própria cidade sempre tinha sido conhecida mais pela miséria e atraso do que por qualquer outro motivo, incluindo a Máfia, ao topo do futebol nacional e europeu.

Ele transportou Villa Fiorito, o bairro de lata de Buenos Aires em que conheceu a luz do dia, para a galeria dos locais de nascimento de deuses, como Nazaré (esta ainda não percebi bem; parece que o Jesus de Nazaré, e por isso "O Nazareno" nasceu em Belém), Meca ou o Olimpo. O bairro continua tão miserável como era, mas as pessoas sentem o orgulho de um dos deles ter chegado ao estatuto de Deus (mais um vídeo 5 estrelas sobre o mito).


Ele tem uma tatuagem de Che Guevara no ombro, e conseguiu passear-se em Cuba, durante uma suposta cura contra a toxicodependência e a obesidade, usando uma t-shirt com a imagem do próprio Che, em que este exibe no seu ombro uma tatuagem de Maradona.

Se calhar há mais pessoas com uma tatuagem a dizer "D10S", simbiose entre as palavras "Diez" (dez) e "Dios" (Deus) em castelhano, e o próprio número "10", do que as que exibem a tal imagem do Che ou a de Jesus. Para grande parte dos cerca de 40 milhões de argentinos Deus tem o número 10 nas costas.


Ele vingou os pobres, é a esperança de que um dia algo pode mudar. Representa os fracos e oprimidos que, embora continuando miseráveis, passam a ter parentesco na galeria dos mitos.

Eu próprio tenho uma certa simpatia pelo Boca Juniors só por causa dele, e ainda hoje me gabo de o ter visto jogar ao vivo.


Dizem que este moço escapou
Ao sonho dos sem cheta
Que aos poderosos desafiou
E atacou os mais vilãos
Sem outra arma nas mãos
Que um "dez" na camiseta

Tradução mais ou menos literal de parte de uma canção de Los Piojos.

Há pouco foi anunciado como novo seleccionador da Argentina. Não me parece de bom tom chamar um deus ao convívio dos simples humanos. Em especial num assunto tão essencial para a vida da espécie como o futebol. Estão a ver Jesus a treinar uma equipa de futebol do médio-oriente? Ou Zeus como seleccionador da Grécia? Deixem lá os mitos no seu lugar, mesmo que fumem charutos havanos ou encham as narinas de cocaína, rezem nos locais dedicados ao efeito mas não os tragam de volta...

1 comentário:

Anónimo disse...

Vamos a ver como é que ele se vai sair à frente da selecção.. Espera-se que os jogadores tenham um enorme respeito por este senhor. =)

Abraço