O homem não pode fechar-se na sua concha e viver virado para dentro. Isto aplica-se a tudo, inclusive à política.
Seguindo tal princípio, e já farto de Josés, Manuelas, Paulos, Franciscos, Jerónimos e outros, decidi há algum tempo acompanhar a política internacional. A política é como a bola: se um tipo quer estar à altura para discutir o assunto com os amigos não basta saber o nome dos jogadores todos do Olhanense ou quantos golos o Leixões sofreu em casa, não chega dominar o mundo da redondinha nacional; é preciso olhar para fora sem se limitar ao Real de Madrid, ao Manchester United e aos outros grandes. Conhecer o campeonato da Grécia, saber quantos pontos tem o 14º classificado no
Scudetto em Itália, conhecer as manias dos árbitros alemães e entender perfeitamente as razões que levam o Bernardino Pedroto a optar sempre pelo Lamá para defender as redes do Petro de Luanda, podem parecer questões menores, mas são trunfos para quem quer ser alguém numa discussão de café sobre futebol. Sim, os homens também falam de outras coisas sem ser gajas.
Decidido a alargar os meus horizontes políticos além do cenário caseiro começo a ver as notícias internacionais e só passa Obama, Merkel, Jintao, Barroso, Sarkosy, Zapatero e mais uns quantos, quase tão habituais e conhecidos nos lares portugueses como o António Fagundes ou a Fernanda Montenegro. Só o óbvio. Onde estão os cromos difíceis, aquele conhecimento que marca a diferença, o comentário que lançado na hora certa deixa o interlocutor com a
mini suspensa a meio caminho entre a mesa e os lábios? Assim não dá! É o mesmo que saber que a mãe do Ronaldo é a Dona Dolores ou que o Toy é um moço de Setúbal que canta e gosta quase tanto de robalos como o
Armando Vara. Grande novidade... Qualquer reformado sabe isso sem precisar de ler o jornal ou ver os noticiários. Quem é que alimenta uma conversa decente com material deste?


Decidido a melhorar os meus
skills oratórios no tocante à política internacional resolvi focar-me na
Colômbia, um país da América do Sul que de vez em quando anda na boca de muita gente e, mais regularmente, nos narizes de muitos mais. A capital é Bogotá mas a cidade mais conhecida em todo o mundo é Medellín, por causa de uma
rapaziada lá da zona que mandava tanto ou mais no país que os governantes da capital. As suas maiores exportações são a coca e os objectos em que ela é
dissimulada para sair do país: sejam peças de mobiliário, roupa interior, preservativos para fazer bolinhas e inserir no recto, pneus importados por dirigentes desportivos ou outros.

No passado dia 14 realizaram-se eleições e o
partido do actual presidente, um tal de Uribe, deve manter a maioria dos tachos a que as suas listas, compostas por modelos, militares reformados, ex-reféns das FARC, apresentadores de televisão e até alguns políticos mais ou menos de verdade concorriam. Eram 102 os cadeirões disponíveis no Senado e não me interessa nada quem vai sentar-se neles. Já no que toca aos 166 da Câmara dos Representantes a coisa muda de figura e só não me importo com 165, o lugar restante espero que seja ocupado pela candidata Maria Fernanda Valencia, que assim terá a oportunidade de mostrar ao mundo as suas qualidades.

A senhora é casada, tem 42 anos, três filhos, é advogada, já foi vice-ministra do Turismo e apresentadora de televisão. Sem boas ligações a nível político e com pouco dinheiro, conseguiu levar a sua campanha a saltar as fronteiras do seu país, de tal modo que eu próprio teria votado nela se tivesse nascido colombiano. Bastou prometer que caso fosse eleita posaria nua para a revista masculina
Soho!... Manifestando-se disposta ao sacrifício pela causa pública e a oferecer aos outros o melhor de si, Maria consegue provar que numa campanha os melhores atributos dos candidatos nem sempre são políticos. Só nos basta rezar para que a Manuela Ferreira Leite nunca prometa fazer o mesmo, não vá o diabo tecê-las e ela ganhar...
